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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A Instituição Machado

Já estou há bastante tempo sem escrever, mas as reflexões densas estão sempre no meu dia a dia... Nesse último ano muita coisa mudou na minha vida e os recentes percalços me permitiram observar alguns detalhes pessoais que antes passaram despercebidos. Não que eu seja alienado ou desapercebido, pelo contrário, eu tento me manter conectado ao meu eu, mas me perco de mim conscientemente, num ato de liberdade, de desapego, de resignação.

Depois de ver a única empresa onde trabalhei (desde estagiário, passando por técnico, consultor até gerente) encerrar suas atividades, eu me vi - mais uma vez - perdido e disse pra mim mesmo: Ótimo, uma encruzilhada... agora é só ler as placas, escolher um caminho e seguir em frente, sempre esperando dias melhores. 
Mas pra minha surpresa, eu não "entendi" as placas ao meu redor e não me alegrei com o iminente processo de mutação e recriação do meu eu (social). Dessa vez o presente mais parecia um labirinto e o futuro um túnel sem fim, me deixando totalmente desconfortável até mesmo com o próximo passo. Na verdade eu queria mesmo era proteger o meu status quo e lutar até a morte pela sua sobrevivência. Foi então que muita coisa passou a fazer sentido...

Mais do que a Instituição Social de Durkheim, eu soube que existia uma outra fortaleza sinistra me cercando, capaz de desestruturar radicalmente meu processo decisório e de irradiar sobre mim uma inércia arrebatadora. Eu que procuro escolher sem me preocupar com o mundo, encontrei um mundo de preocupações em mim mesmo e apesar de considerar meus processos internos de mudança bastante maduros e relativamente livres, eu percebi que sou um grande prisioneiro; um detento encarcerado na implacável Instituição Machado, a "famosa" organização existencial do eu.

Essa instituição é um verdadeiro paradoxo. A cada dia, a cada tijolo pilhado nós vamos construindo ao nosso redor muralhas, que nos mantém protegidos das ameaças do mundo externo, mas ao mesmo tempo adormecem nosso estado de alerta nos confinando atrás das barras da falibilidade do eu.
É um processo gradativo, validado pela fluidez e causalidade do tempo. Assim, a cada instante nós (porque acredito que todos nós passemos por algo semelhante) vamos consolidando uma realidade, que por mais certa e lógica que possa parecer nem sempre é o que parece.

Quando a vida por algum motivo me permitiu enxergar além da névoa que me obscurecia, eu me me vi totalmente fora do eixo, me afastando da minha essência como nunca fiz antes. Minha realidade profissional perdeu completamente o sentido e com ela se foram horas, dias, anos que dediquei a um propósito que agora se revelou infundado.
Mesmo assim,  a continuidade da vida não dá descanço e tenho que seguir em frente como qualquer um que busca qualquer coisa nessa existência. E foi assim que eu cheguei até a atual encruzilhada...

Parece fácil escolher, mas é irritante reconhecer que existe uma entidade nos tolhendo e essa entidade é você mesmo ! É desconcertante ficar estagnado diante de uma escolha aparentemente simples, não por receio do que o mundo vai pensar de você, mas por certeza de que você não sabe o que pensar de si ! E o requinte de crueldade é que a realidade continua a mesma, a estrada está ali, as placas também, você idem.

Foi difícil encontrar uma saída (e ainda nem sei se encontrei). Nada é mais difícil do que abandonar o eu, porque ele (o eu) é o nosso conforto, nosso solo firme, nossa única certeza absoluta. Destruir a Instituição Machado significa levar à falência o certo e fugir dessa fortaleza é como saltar no vazio sem saber quantos instantes de oxigênio ainda me restam.

Mas por mais que o tempo exerça enorme pressão e a Instituição Social ainda esteja na próxima curva nada é mais importante do que a minha essência, a minha verdade incontestável, onde me encontro integralmente e por onde me conecto com Deus.
Minha decisão ?!?!? Por enquanto eu decidi ficar perdido. A incerteza sobre o eu me confere uma grande certeza: Eu sou (ponto) !

O resto é com a vida... Que venha o fururo ! Se não der certo eu "fujo" pra Visconde de Mauá... (risos)


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Nem tão livre assim...

Às vezes me pego pensando em assuntos pesados, fora de qualquer contexto rotineiro. Não é nada planejado, as ideias apenas surgem no consciente e entro numa viagem interminável por entre racionalizações, conjecturas e alguns becos sem saída...
Um desses pensamentos recorrentes é sobre o relativismo, que diz que nada é absoluto, tudo é relativo. E na minha opinião uma das relatividades mais interessantes é sobre a verdade. Qualquer avaliação empírica nos leva a crer que não existe uma verdade absoluta, algo independente de juízo, de percepção ou de estado de consciência. A subjetividade cria, defende (e às vezes ofende), muda e destrói verdades, fazendo delas meras opiniões pessoais sem qualquer senso coletivo, quiçá universalismo.
Não é uma questão de correntes de pensamento que defendem ideias diferentes, a verdade absoluta não existe, pois não há unanimidade, consenso ou sequer uma convergência forte de ideias entre a humanidade.

Sendo assim, eu me pergunto: Sem uma Verdade pra nos embasar, qual a origem dos nossos desejos, das nossas vontades ? Por que escolhemos isso ao invés daquilo ?

Eu tive uma educação pautada no poder individual da escolha, o famoso livre arbítrio, que nos inputa responsabilidade por nossos atos e suas consequências, que nos torna capitães e juízes de nós mesmos, mas se eu não sei porque me tornei quem sou (incluindo-se todos os meandros desse processo) essa "ferramenta" perde toda a sua majestade e se reduz a uma simples causalidade do fluxo existencial.

É claro que é muito mais prazeroso pensar que eu sozinho tomei a decisão de escrever esse texto às três da manhã da segunda de Carnaval, mas talvez eu tenha que aceitar que eu apenas estou escrevendo, porque fiquei deitado na cama pensando nesse tema, porque tive insônia, porque estava frio no quarto, porque o ar condicionado foi ajustado da maneira errada, porque as pilhas do controle remoto estão em outro aparelho, porque eu nunca lembro de recarregá-las... enfim, talvez eu não seja tão livre assim.
Ainda bem que eu gosto de uma filosofia oriental que diz algo do tipo:


Tudo o que aconteceu é o que deveria ter acontecido !


Saudações fraternais,
Fabio Machado.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Não leve a vida tão a sério (cont.)

Mesmo nesse período agitado de festas e comemorações, eu tive alguns poucos feedbacks sobre o meu último post. Pelo visto, algumas ideias precisam ser mais elaboradas e vou aproveitar essas primeiras horas de 2011 pra fazer isso.

Na minha visão, tudo o que percebemos como realidade está interconectado, é como se todos os seres vivos e os inanimados fizessem parte de uma rede ou parafraseando Fritjof Capra, de uma Teia da Vida. Qualquer ação proveniente de um integrante dessa rede afeta ele mesmo e os que estão à sua volta: um leão que mata uma zebra bebendo água, uma flor que libera seu pólen no ar, um motorista que xinga sem motivo alguém no trânsito, uma topada que damos no dedo mínimo do pé, uma represa construída, tudo isso tem consequências que desconhecemos até que elas aconteçam e mesmo quando acontecerem, talvez não consigamos relacioná-las com uma causa específica. Assim, é possível que o mal humor do motorista por machuchar o dedo do pé tenha provocado o xingamento gratuito ao dirigir pro trabalho, é possível que a zebra morta tenha deixado de comer a flor que polinizou o ambiente, é possível que a água evaporada da represa tenha provocado uma tempestade que formou um lago onde a zebra bebeu água e foi morta pelo leão, e essa cena, ao passar no Discovery Channel®, distraiu o motorista fazendo com que ele desse uma topada com o pé. Enfim, tudo é possível e causal, mas ao mesmo tempo imprevisível e incontrolável.

Sendo um sistema vivo, a Vida se manifesta livremente através dessas sucessivas causas e consequências. As leis que o regem são as que inventamos como o Direito, as que observamos como as Leis da Física e as leis que herdamos, como as da Natureza em geral. Há ainda forças veladas e oficiosas, que eu chamo de Lei da Maioria e Lei da Fama, assuntos pra outro texto.
Entre os objetivos, há por exemplo a busca pela perpetuação, pela otimização energética e pela evolução sistêmica, esse último um conceito pessoal.

Entretanto, a grande questão dessa filosofia está nas ações, porque na minha opinião não importa o que cada um faça, nem as leis nem os objetivos mudam. É claro que cada ação conduz o sistema a um estado específico, mas não há mudança sistêmica. Assim, pra Vida não faz diferença se eu sou rancoroso, se eu mato mosquitos, se eu sou ciumento, se faço trabalho voluntário, se eu sou vaidoso, se eu tenho depressão ou muitos amigos, se eu vivo cem anos ou se morro de estresse aos quarenta. Agir de um jeito ou outro é relevante apenas num aspecto individual ou no máximo microsistêmico.

Por esse motivo, eu acredito que a melhor estratégia para contribuir positivamente para os objetivos do todo é fazer o melhor pra si mesmo e consequentemente para o sistema. Parece um propósito egoísta, mas a inexistência de uma Verdade absoluta e o poder do livre-arbítrio individual impedem que seja concebido um plano coletivo eficiente para conquistar o sucesso sistêmico. Talvez se soubéssemos de onde viemos, existisse paz e harmonia na Terra, talvez se Deus vivesse fisicamente entre nós, os Homens “seguissem” uma única religião ou nenhuma, talvez se houvesse um consenso sobre o que acontece após a morte, os seres humanos cultivassem uma mesma Ética.
Enfim, felizmente ou infelizmente nosso universo ainda é muito relativo, extinto de qualquer unanimidade e uma opção é concentrar nossos esforços em nós mesmos. É possível conhecer o que é melhor pra si próprio a partir da convivência social, dos erros e acertos, alegrias e tristezas, conquistas e frustrações, usando o sistema a nosso favor e tornando-se um ser mais “evoluído“. Com essa postura acredito que temos mais chance de influenciar positivamente nossos próximos e fazer do mundo um lugar melhor. Portanto, digo e repito, não leve a vida tão a sério !


Saudações fraternais,
Fabio Machado.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Não leve a vida tão a sério

Eu acredito que a Vida seja um sistema livre, independente da existência de um Observador Externo, um Deus, um Arquiteto que admira sua obra; e se não há controle ou determinismo, nosso livre arbítrio se torna uma arma poderosa ! Essa ideia não é incompatível com qualquer conceito "extra-mundano", pois mesmo Dharmas, Karmas, obsessões, milagres... manifestam-se no plano terreno, seja nessa vida (ou em outra para os que como eu acreditam), e se somos capazes de perceber ou reconhecer esses fenômenos somente aqui, minha crença não desabona outros planos existenciais.

Então, de maneira super simplificada, a Vida pode ser interpretada como um supersistema, um conjunto de entidades que interagem através de fluxos de materia, energia e informação, respeitando regras e buscando objetivos (conscientes ou não). Por exemplo, num ecossistema primário um dos objetivos é perpetuar-se e as regras são as leis da Natureza.
Uma boa abstração a partir desse ponto me fez pensar um dia que sou apenas um microssistema que processa os inputs que recebe do mundo e entrega de volta outputs personalizados para uma rede incomensurável de microssistemas que fazem a mesma coisa. Agimos em função de leis que herdamos, de leis que observamos e de leis que inventamos, mas Eu não controlo nada, Eles também não. E se não há controle externo e nem interno... tcharam... o sistema é livre ! Toda a sensação de que controlamos e somos controlados é uma grande ilusão, que acaba afetando a forma como funcionamos (entenda-se vivemos). Esse é o primeiro ponto importante desse devaneio...

O segundo ponto chave dessa questão existêncial é a pergunta: faz diferença pra Vida (supersistema) como cada entidade (microssistema) funciona ? A minha resposta é: NÃO !
Nem mesmo a morte de uma entidade qualquer é capaz de mudar a Vida, na medida em que não altera nem as leis que a regem, nem os seus objetivos.
Sou, então, obrigado a me questionar o seguinte: Qual é o objetivo do supersistema Vida ? A minha resposta hoje é: EVOLUIR !
Apesar de evolução ser por si só um conceito complexo, essas duas respostas objetivas me levam a uma conclusão importante: Para o bem da vida, eu sou o que há de mais importante pra mim mesmo !

Esse objetivo da Vida só será alcançado, mesmo que de maneira não-linear e incontrolada, se cada um de nós evoluirmos individualmente. É a partir dessas resoluções que eu tento incorporar o máximo de positividade possível, o tempo todo, tentando não me deixar abater pelos "desprazeres" por muito tempo.  Esse é o melhor presente pra mim e, quem sabe um dia, pra todos nós.

Portanto, minha mensagem natalina se resume a uma frase: não leve a vida tão a sério !


Saudações festivas,
Fabio Machado.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A vida ou a SUA vida ? Reflexões

Foram muitos comentários interessantes sobre o post anterior, algumas conversas profundas, contudo, o mais curioso foram as associações que algumas pessoas fizeram com a morte. Como o próprio título já diz, o texto é sobre a vida, talvez contextualizada de maneira muito material, mas ainda sim esse é o foco.




Como alguns perceberam, uma vez dentro da sala, qualquer alternativa escolhida levaria à morte. A questão fundamental era a escolha entre a própria vida ou a vida.

A dúvida pode ser interpretada como o medo do sofrimento, o medo do desconhecido. Entretanto, temos aqui um paradoxo, pois se para evitar o sofrimento próprio, uma pessoa decidisse não apertar nenhum botão, era estaria escolhendo o próprio sofrimento. No meu entendimento, não apertar nenhum botão é a pior alternativa.



Talvez a escolha de viver sozinho não seja uma morte óbvia, mas mesmo os heremitas estão ligados à sociedade na medida em que a negaram. A negação é o vínculo entre os dois e além disso, a qualquer momento esse indivíduo solitário sabe que pode "voltar". O vínculo e o livre arbítrio o tornam vivo.
Já um sobrevivente verdadeiramente sozinho não tem opção. Sem o feedback de outras pessoas, sem seus espelhos, ela não será capaz de se reconhecer, perderá sua identidade e assim, morrerá, mesmo que seu coração ainda esteja batendo.


Isso acontece porque a vida é muito mais do que um conjunto de reações bioquímicas, do que um aglomerado de moléculas, muito mais do que a consciência em si. A vida é uma rede viva, pulsante e dinâmica, inteligente a ponto de aprender consigo mesma e evoluir. A vida é criação, destruição e recriação além de seus limites imagináveis. A vida é a pura inspiração !



Enfim, o teste nada mais era do que uma forma de avaliarmos se a existência individual é mais importante que o princípio vital universal. Na minha opinião, a minha vida não é o que há de mais importante, apesar de só eu poder vivê-la. Eu apertaria o botão que me mataria, consciente de que estaria preservando algo que está além do tempo, além do espaço, muito além de mim.
Sem mim a vida continua fazendo sentindo, mas sozinho eu não faço.


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A vida ou a SUA vida ?

Estou de volta ! Bem, mais ou menos... De um tempo pra cá, pra escrever eu tenho que deixar de fazer alguma coisa e hoje eu decidi exercitar a mente.
Esses dias eu estava conversando com uma amiga e por algum motivo começamos a falar sobre a importância da vida. A conversa evoluiu pra um teor mais filosófico e debatendo sobre altruísmo versus egoísmo, eu levantei a seguinte questão: O que é mais importante, a vida em si ou a vida de alguém ?

É comum ouvir das pessoas que sua própria existência está em primeiro lugar e esse conceito faz todo sentido, pois só nós vivemos nossas experiências e ninguém, em qualquer plano, poderá desempenhar esse papel em nosso lugar, portanto, façamos certo ou errado, façamos nós !
Entretanto, devemos considerar que nossas vidas fazem parte de uma teia complexamente entrelaçada em que um ponto não subsiste sem os outros. Seguindo essa analogia, fazemos sentido existencial apenas na presença de outros semelhantes. Mesmo nesse contexto, é difícil conceber essa ideia a ponto de adotá-la.

Durante minha conversa tive um insight sobre um teste onde cada um poderia compreender melhor essa situação.
Imagine que essa noite você vai dormir normalmente e que ao acordar se encontre numa sala completamente vedada, sem janela e com apenas uma "porta" sem fechadura. Você se depara com dois botões embutidos em uma das paredes cada um com uma placa.

- A placa de um dos botões continha o texto: aperte esse botão e SÓ VOCÊ morrerá.
- A outra placa continha o texto: aperte esse botão e SÓ VOCÊ viverá.

Havia ainda uma terceira placa ao lado da porta que dizia: você só alcançará a liberdade se apertar um dos botões, caso contrário definharás até a morte.

O que você faria ?

No próximo post eu darei minha resposta e farei considerações sobre o assunto.


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Da temporalidade das escolhas

Não tem jeito, eu vejo o tempo como um grande inimigo. Minhas reflexões atuais me levam a crer que a sua invenção foi a pior já feita pela humanidade... mas deixemos esse assunto pesado para um outro "post".

Dentre as frases de efeito que eu costumo dizer pra alguns amigos, talvez a mais impactante seja "a vida é feita de escolhas". Ouvindo-a ou lendo-a assim, descontextualizada, parece algo óbvio, mas eu a entendo de forma mais complexa.
Fazemos escolhas a todo instante, consciente ou inconscientemente: Levantar quando o despertador toca, beber leite achocolatado, escovar os dentes, desejar bom dia pro vizinho (...) comer sobremesa depois da janta, assistir o noticiário...

A questão é que nós envolvemos o tempo nesse processo e uma simples escolha passa a ser "a escolha certa", "a pior escolha", "a escolha adequada", etc.

Essa adjetivação surge inicialmente por conta de um mecanismo de comparação. Levantar ao ouvir o despertador é a escolha certa, porque um compromisso já foi perdido, por conta dos cinco minutos a mais de soneca; beber leite achocolatado é a pior escolha, uma vez que suco de laranja é mais saudável, desejar bom dia pro vizinho é a escolha adequada, pois ele aceitou emprestar sua vaga de garagem gratuitamente.

Até aí tudo bem, comparar faz parte da essência mental humana. O problema é quando tentamos burlar a continuidade do tempo e afirmamos que o resultado seria mais favorável se tivéssemos feito uma escolha diferente da que fizemos, por exemplo, que não teríamos perdido o compromisso se não tivéssemos dormido mais cinco minutos; que não tivemos gastrite, porque nunca tomamos suco de laranja no café da manhã; que se não fosse pelo empréstimo do vizinho nosso carro não teria sido arranhado.

O fato é que nunca saberemos o que teria acontecido se tivéssemos feito escolhas diferentes das que já fizemos. Ao imaginarmos um instante no passado diferente, somos obrigados a considerar infinitos possíveis desfechos, não um único.

Enfim, existem escolhas, simplesmente escolhas ! A vida encarada dessa maneira nos afasta de muitas frustações, medos, ansiedades e outras armadilhas do tempo.


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sexo e matemática

Navegando pelo universo blogueiro me deparei com um diário bem interessante chamado EU DOU PARA IDIOTAS. A escritora, chamada Pati, fala de relacionamentos de uma maneira... digamos assim... livre. (risos)

É bem interessante, num estilo jovial, leve, como deveria ser mesmo, porque ela tem uns vinte e poucos anos, poucos idiotas na bagagem e muitos ainda pela frente, (in)felizmente.

Depois que eu li, indiquei pra uns amigos e esses dias um deles veio me falar de um post sobre sexo e matemática. Fiquei curioso, mas só ontem fui ler. Por fim, acabei compelido a escrever uma contestação.

Na verdade, ela escreveu três textos sobre o assunto, mas a motivação original é um livro que se eu não me engano já li, onde a autora fala que devemos ter doze relacionamentos antes de encontrar nosso grande amor. Pati foi pesquisar a origem desse número cabalístico e acabou por propor uma nova fórmula para a busca do cônjuge ótimo.

Não vou descrever o método em detalhes, mas em resumo, a idéia é encontrar o melhor parceiro possível num universo de N potenciais candidatos e ficar com ele. Foi feita uma analogia onde os candidatos são representados por bolinhas numeradas dentro de um saco, cada uma com um número único qualquer (para os exatos, podendo variar de menos infinito a mais infinito). O processo de escolha do parceiro é representado por um sorteio e pra simplificar, as bolinhas sorteadas NÃO voltam para o saco, ou seja, são descartadas. Considerando que o saco tem N bolinhas quaisquer, existe uma fórmula que determina a maior probabilidade de sortearmos a bolinha de maior número após T tentativas, sendo que existe um T ideal para um dado N.
Traduzindo para o universo dos relacionamentos, vamos dando notas para os candidatos com os quais nos deparamos ao longo da vida e tentamos escolher o(a) melhor parceiro(a) com o qual iremos ficar após T avaliações / valorações.

Segundo a pesquisa, para um N igual a 100 devemos avaliar 38 pessoas e dar notas para todas. A partir da trigésima nona, a pessoa que receber a maior nota deverá ser escolhida. Essa estratégia nos dá 37% de chance de selecionarmos o par ideal, o grande amor.

Reparem que estou falando de probabilidade, não de certezas !

Na minha opinião, a grande falha dessa analogia é que se existe uma maneira de encontrar o melhor parceiro possível, podemos premissar que há um número grande de pessoas utilizando tal método e nesse caso, nós tendemos a ser sorteadores e bolinhas ao mesmo tempo. (risos)
Surge, nesse caso, um novo problema, onde não basta que sorteemos a bolinha de maior número, também precisamos ser a bolinha de maior número sorteada pelo outro.

Alguém pode até dizer que essa dificuldade seria um estímulo para que nós tentássemos nos tornar bolinhas mais "valiosas", só que percepção de valor é algo bem subjetivo e a nota que nos damos raramente é a mesma que os outros nos dão, portanto, temos aqui uma meta muito mais difícil que a original e entendo que o modelo matemático proposto se torna inadequado.
De fato, quando eu li que havia 37% de chance de sucesso, achei um percentual muito alto !

Enfim, como eu vivo num limbo entre racionalidade e emotividade eu costumo enxergar a realidade como uma conjunção de aspectos correlatos e interdependentes. Não consigo ver a vida como uma simples soma de partes, mas sim como um todo holístico amorfo. Pra mim a matemática e o amor só se unem em Deus...


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Pseudo-cafa: o retorno

Como eu já esperava, o post anterior gerou polêmica, mas meus leitores, muitos de Complicadópolis e de Esquisiteiro, preferem falar comigo pelo MSN. Talvez só deixar comentários aqui não os satisfaça... Por mim, tudo bem. Também gosto da interação online.

Diante das diversas opiniões eu me senti um verdadeiro bandeirante de uma colônia isolada entre essas metrópoles (risos). O problema é que está havendo um processo de conurbação e estou cada vez mais influenciado pelos vizinhos (mais risos). Visito as duas cidades para rever amigos e curtir outras culturas.

Convenhamos, até mesmo um "matuto" tem que se atualizar, senão acaba caindo na obsolescência e se tornando um mentecapto.
Por outro lado, é claro que existe o risco de um pseudo-cafa conquistar uma cafa, mas se esse for o caso, ele pode se passar por cafa e vazar antes do "retorno" ! Estatisticamente isso é o que mais acontece e ele será apenas mais um ponto no gráfico.

O que talvez não tenha ficado claro é que a idéia é apenas fingir ser cafa até conquistar o(a) parceiro(a). Depois de sacramentada a conquista, volta-se ao estado original. Esse é o diferencial !
Além do mais, nós, anti-cafas, somos altamente prejudicados pelos cafas, que traumatizam as moças tornando-as defensivas, desconfiadas, receosas, descrentes... Adotando essa nova estratégia, nós vamos acabar com o apelo semi-negativo-atraente dos nossos inimigos. Imaginem corprometer a imagem cativante do cafajeste ?!? Não tem preço !

Enfim, não vou perder minha identidade ou me deixar aculturar livremente, só participei de um workshop com profissionais, onde aprendi um pouco sobre as técnicas modernas de conquista. É a força da globalização !
Meu borogodó continua o mesmo, minha responsabilidade e gentileza também, talvez... tavez... talvez o que mude um dia seja apenas a ordem das armas. O soldado da infantaria irá na frente e dará a vez para o príncipe da cavalaria ! (gargalhadas)


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Pseudo-cafa: o novo guerreiro

Homens são de Complicadópolis, mulheres são de Esquisiteiro (risos). Sem julgamento, sem rótulos fixos, só estou conjecturando.
Ontem eu fiquei até tarde no trabalho conversando com um amigo sobre carreira, posicionamento e formação profissional. Papo vai, papo vem, de alguma maneira o assunto desviou para relacionamentos e inspirou esse texto.

Tomei conhecimento da última palavra em "estratégia de conquista", que eu já batizei de pseudo-cafajestismo. Essa palavra define o homem ou mulher que se faz passar por cafa para conquistar. Sim, mais um conjunto de técnicas elaboradas provavelmente por homens, certamente nascido(s) em Complicadópolis (mais risos).

Segundo o locutor que me falava, ele - um rapaz cavalheiro, atencioso, prestativo, o esteótipo do anti-cafa - assim que terminou um relacionamento há um tempo atrás e voltou ao "mercado", percebeu que o negócio não estava fácil. Desconhecedor das novas regras do "jogo", só se dava mal, enquanto via os cafas dominando a cena. Até fizemos um esforço conjunto pra tentar descobrir porque elas gostam desse espécime, mas creio só quem é de Esquisiteiro entende de verdade.

Conhecedores de que estão em desvantagem nessa guerra dos sexos, os anti-cafas devem ter se visto numa situação calamitosa. Imaginaram o mundo dominado pelos cafajestes e resolveram inovar, numa ação tática mais do que lógica: se reinventaram, criando o pseudo-cafa ! (gargalhadas às 6:30H)
Por alguns milésimos de segundo, eu me senti um idiota por nunca ter pensado nisso, mas também, quem está na "pista" tem muito mais chance de ser criativo do que eu, que sempre namorei nos últimos 15 anos e agora que estou solteiro, fiquei malhando a mente em sala de aula.

O fato é que a idéia é brilhante. O candidato só tem que andar por aí, aprender as técnicas dos cafas profissionais e replicá-las posteriormente. Um dos exemplos que tive foi o de só atender o telefone na terceira ligação, porque conquistador que se preze não atende o telefone de primeira ! Esse número não é empírico, surgiu a partir de pesquisa científica ! Tive acesso inclusive a uma explicação do porquê deve ser assim...

Enfim, meu amigo hoje está namorando, então acredito que ele foi bem sucedido na empreitada. Confesso que mesmo que seja eficiente, essa roupagem não faz o meu estilo, mas como tudo nessa vida muda, é sempre bom ter um plano B. (risos irônicos)


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

O indefectível timing

Um dia o Homem inventou o tempo... algo que apesar de ser imprescindível à vida moderna, é totalmente artificial. Não sei se é óbvio, mas diferente do espaço, que nossa cognição identifica naturalmente, o tempo não existe por si só, ele só se concretiza a partir de nossas mentes. Concebemos essa variável contínua, sem fim e autônoma, o que a tornou um elemento poderoso em nosso mundo.

Não é de se estranhar que o tempo tenha um papel diferenciado, pois é através dele que percebemos e registramos a nossa existência. E conforme esta foi ficando cada vez mais complexa, mais intrincado ficou nosso relacionamento com "Chronos". Eventualmente surgiu o conceito de timing, na minha opinião, o mais desonesto elemento das relações humanas.

Timing: saber decidir o melhor momento para fazer ou dizer algo; a regulação de uma ocorrência ou evento para alcançar o efeito desejado; o senso de escolher a oportunidade e o tempo de duração de um determinado plano.

Criamos ao poucos o momento-certo pra tudo: ouvir, falar, calar, sorrir, acordar, comer, beijar, encontrar, ligar, amar... Se isso ficasse restrito a um único indivíduo, tudo bem, mas quando envolve mais de uma pessoa, surge uma singularidade perversa, temos que alinhar os timings das duas ou mais partes.

Não gosto de probabilidades, mas nesse caso ela serve pra ilustrar de forma simples o que quero dizer. Assim que definimos um único instante certo, automaticamente todos os outros tornam-se errados e como o tempo é infinito, a probabilidade de duas pessoas se encontrarem na hora certa, por exemplo, é matematicamente zero (um dividido por infinito, ao quadrado).
Claro que isso é apenas uma representação fútil e limitada, mas deixa claro que eventos como esse são raros. Somando-se a esse processo segredos e mentiras, eles se tornam praticamente milagres !

Enfim, alinhar interesses é difícil, alinhar sentimentos afins, mais ainda.
O que eu sinto é que acima de tudo devemos viver e não apenas existir e para isso é necessário respeitar primeiramente o nosso timing e deixar que ele se encontre com o timing de outrem. Libertemo-nos; arrisquemo-nos; vivamos !


Saudações fraternais,

Fabio Machado

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A Grande Guerra - Prefácio

O ser humano tem uma característica interessante, a maioria de nós não é capaz de acessar os pensamentos ou sentimentos do próximo diretamente, só conhecêmo-los através de algum tipo de linguagem, seja verbal ou não-verbal. Essa habilidade, chamada de telepatia, até pode ser uma cognição adormecida, subdesenvolvida ou já atrofiada, mas o fato é que em nossa espécie, observando a maneira como as pessoas interagem, conclui-se que ela se manifesta em uma minoria (risos).

Imagino que essa restrição mental tenha sido notada lá nos primórdios da humanidade e resultou num processo de individuação com dois fenômenos importantes: o segredo e a mentira.
Na medida em que cada um de nós é conhecedor exclusivo das nossas forças de expressão, encontramos nesses elementos formas de criar um micro-universo com suas próprias leis, onde somos quem queremos ser.

Hoje, esse querer parece estar muito associado a uma necessidade externa, seja de ser "igual" ou de ser "diferente". Em ambos os casos, o indivíduo se torna consequência do meio, havendo uma clara separação entre sujeito e objeto. Essa dualidade é o que na minha opinião separa o Homem de seus semelhantes e sobretudo, separa-o do todo, da unidade.

Por conta disso, vivemos uma grande guerra, onde nossas percepções, opiniões e egos são as armas que dão origem às três grandes batalhas que travamos, cujo inimigo comum é o indivíduo. É uma realidade conflituosa, mas onde naturalmente existem forças de paz.

Assim, tais batalhas darão origem a uma trilogia (pra ficar na moda), que pretendo escrever não necessariamente em sequência, mas que representam minhas reflexões atuais no campo das relações interpessoais.


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

domingo, 21 de junho de 2009

O paradoxo do simulador

No penúltimo post eu falei sobre a busca por padrões, um mecanismo humano de auto-preservação. Recebi dois e-mails pedindo pra eu explicar melhor a relação entre o estabelecimento de padrões e o futuro e por isso resolvi escrever esse texto, que complementa o anterior.

Algo inexplicável até hoje é o fato de não termos acesso epistemológico ao futuro, ou seja, não "lembramos" do amanhã assim como lembramos do ontem. Parece simples, mas nenhuma filosofia ou modelo científico consegue explicar porque temos essa relação unilateral com o tempo. Como consequência desse desconhecimento dos eventos vindouros, nós criamos certos padrões para que possamos fazer escolhas que nos dêem maior chance de sucesso (felicidade) ou menor risco de fracasso (frustração), essa é a minha teoria.

Por exemplo, se o céu está nublado, quem não gosta de se molhar sai de casa com guarda-chuva, mesmo sem saber se vai realmente chover. Se estamos num local isolado e escuro, e escutamos um barulho esquisito, ficamos atentos e/ou buscamos claridade, mesmo sem saber se o causador do som é um inseto inofensivo, uma fera selvagem ou qualquer outra coisa. Se uma mulher tem a razão (proporção) entre o comprimento da cintura e do quadril igual a 0,7 ela desperta o interesse do homem por parecer mais apta a perpetuar a espécie, independente de querer ter filhos. Relações como essas entre o céu nublado e a chuva, o barulho e o perigo, o contorno corporal e a perpetuidade são estabelecidas por cada um de nós e a todo instante estamos analisando a vida, consultando esses padrões registrados em nossa memória e tomando atitudes em função deles. E na medida em que supomos que vai chover, que seremos atacados ou que tal mulher dará a luz com mais facilidade estamos tentando prever o futuro. É assim que buscamos a "felicidade", é assim que tentamos construir a nossa "sorte".

Foi então que assistindo o filme "A mulher invisível" na semana passada, eu vi uma cena onde uma esposa se separava do cônjuge, argumentando que ele era o melhor marido do mundo e que o relacionamento entre eles era perfeito e, segundo ela, mulher nenhuma gosta disso. Na hora aquilo "bateu" mal e eu pensei imediatamente nas inúmeras vezes que ouvi mulheres dizendo que queriam "um amor pra vida toda", "um homem perfeito", "um relacionamento sem desentendimentos"... Fiquei me perguntando: será que as pessoas gostariam de saber o futuro ou não ?

Elaborei, então, um teste pra tentar responder essa pergunta. Algumas mulheres serviram de cobaias e o resultado foi um tanto paradoxal.
Primeiro eu criei uma situação hipotética onde existiria uma máquina com uma super tecnologia capaz de simular uma realidade perfeitamente, mais ou menos como a do filme Matrix. A diferença é que nessa minha versão seria possível escolher o próprio futuro antes de entrar na máquina, ou seja, a pessoa antes de ser conectada poderia definir como queria viver até que o seu corpo físico morresse. Eu até pensei em incluir a possibilidade de "lembrar" do futuro nessa realidade alternativa, mas achei que ficaria complexo demais imaginar esse cenário.
Feito isso, eu disse pra cada uma das minhas entrevistadas que elas tinham conquistado como prêmio, o direito de se conectar ao "simulador de realidade", desde que aceitassem permanecer assim pra sempre. Antes de serem ligadas ao equipamento, elas poderiam escolher nos mínimos detalhes a vida que quisessem levar, mas não teriam lembrança da existência desse processo de escolha. A nova realidade seria "perfeita" e pareceria uma continuação da realidade original, sem qualquer tipo de anomalia, singularidade ou descontinuidade.
Para os psicólogos: detalhes como defeitos no simulador, alimentação da pessoa, estímulo aos sentidos, etc, seriam 100% controlados de forma que a percepção da realidade original seria invariavelmente nula !

Curiosamente, todas responderam que recusariam o prêmio e que não se interessavam por uma vida pré-determinada. Os motivos foram diferentes, uma disse que as coisas boas e ruins faziam parte do crescimento pessoal, outra que o que ela quer pro futuro hoje, ela pode não querer amanhã e uma terceira, que preferia ter o direito de arriscar.
Apesar de ter sido uma pesquisa amadora eu me deparei com um paradoxo, já que essas pessoas tentam adivinhar o futuro o tempo todo, mas não gostariam de conhecê-lo antecipadamente, se isso fosse possível.

Refletindo sobre esse assunto, o que me ocorreu é que talvez as pessoas não saibam o que querem, apenas saibam o que não querem. Nesse caso, conhecer o futuro realmente seria irrelevante, já que só existimos no presente e só experimentaremos e reagiremos ao futuro quando ele chegar.
Entretanto, se é dispensável antever o futuro, só nos resta viver da melhor maneira possível o presente, mas viver de verdade o agora sem se preocupar com o que virá depois exige desprendimento, dinamismo, resiliência e rapidez, caraterísticas que esbarram na poderosa inércia psíquica. Bem, ninguém disse que seria fácil...

Ficou por fim uma curiosidade: Será que alguém gostaria de se ligar ao simulador ?


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

sábado, 13 de junho de 2009

Obstáculos à Felicidade II: A inércia psíquica

Passei os últimos meses pensando no assunto desse post. Quando eu escrevi que nós mesmos somos o primeiro obstáculo à felicidade eu achava que publicaria uma série de textos citando outras dificuldades.
Primeiro defini a próxima barreira como sendo a religião, depois, pensando melhor, percebi que o fanatismo, esse sim era um grande problema, mas por último entendi que a imutabilidade era o ponto chave, a causa fundamental de todos os anteriores, afinal, dogmas não são impostos, dogmas são aceitos !
Comecei a escrever, mas algo me incomodava, eu lia minhas próprias palavras e sabia que aquilo estava incompleto ou era uma simplificação incorreta. Um belo dia apaguei tudo e resolvi observar, perceber e refletir.

Estou certo de que mudança não é uma escolha. Tudo muda independente da nossa vontade, até porque energia tem uma natureza intrinsecamente metamórfica e tudo é energia. Esses processos podem até seguir uma lei primordial como alguns físicos e astrofísicos acreditam, mas ela não deixará de ser uma Lei Universal da Mudança.
Portanto, nossas escolhas não são capazes de imutabilizar; pelo contrário, elas é que podem nos levar em direção aos nossos sonhos e objetivos. Por isso, nós somos nosso primeiro entrave.

Entretanto, é notório que mudar é assustador para muitas pessoas e a mesmice provoca uma certa sensação de segurança. Mas por que ? Por que diante de algumas situações tristes, relacionamentos frustrados ou empregos desumanos não fazemos valer nosso livre arbítrio e mudamos a nossa realidade ? A princípio, a "materialização" de uma vontade deveria ser capaz de resolver essas questões, mas não é tão simples assim...
Tentando responder essa pergunta é que eu tive um insight interessante duas semanas atrás, que venho maturando até agora.

Todos nós (acho essa uma generalização bem razoável) buscamos padrões. A padronização envolve processos como comparação, associação, correlação, classificação e registro, e talvez tenha sido a grande responsável pelo sucesso da nossa espécie. Alguém pode dizer que existem outros mecanismos importantes como a abstração, mas eles não vão afetar a minha teoria.
Padronizar até certo ponto nos promove a "futurólogos" ou profetas, que tentam prever o porvir com base em nossos padrões pré-existentes em busca de segurança, e quanto mais seguros nos sentimos, menos ansiosos somos; e quanto menos ansiedade temos, menos deterioramos nossa fisiologia e assim, maior é a nossa longevidade. Bingo !
Se minhas idéias estiverem certas, esse comportamento está enraizado nos nossos planos inferiores de consciência, imerso em nosso instinto de sobrevivência.

Essa pseudo-segurança transcende o estado mental corrente, criando um obstáculo ainda mais desafiador, uma versão inconsciente do primeiro, que eu batizei de inércia psíquica.
Definindo de forma leiga, a inércia é uma propriedade da matéria (e da energia) que descreve uma tendência dos corpos de permaneceram em seu estado atual e a mesma parece valer para a psiquê.
De alguma forma muito sinistra, nos mantemos em um estado psíquico que nem mesmo nossas vontades conscientes conseguem mudar fácil. Primeiro, porque não somos capazes de acessar diretamente o inconsciente e alterá-lo. Além do mais, acredito haver uma consonância natural entre nossos planos de consciência e por mais que possamos agir livremente, se o fazemos, a mudança repentina de comportamento cria uma divergência entre o consciente e o inconsciente, uma dissonância que é desconfortável e ameaçadora na medida em que o último não consegue acompanhar o primeiro.

Por exemplo, alguém que tem pavor de sapo devido a um evento traumático qualquer, não consegue pegar o anfíbio com a mão, nem que isso seja uma escolha mental, porque o trauma registrado no insconsciente não pode ser apagado instantaneamente e pegá-lo seria inseguro. Alguém que vive um relacionamento ruim, não o abandona, pois mesmo que as emoções vividas sejam negativas, elas são conhecidas e consequentemente seguras. Abandoná-lo significaria viver emoções novas, que independente da sua natureza, seriam inseguras. Existem inúmeros outros exemplos, mas a idéia é que cada um reconheça os seus.

O mais curioso é que na verdade não temos controle sobre a vida ou sobre o tempo e por mais que a inércia psíquica seja um mecanismo de proteção, ela é fundamentada na falsa premissa da previsibilidade do futuro. Infelizmente, até agora não consegui pensar numa maneira de evitá-la ou contorná-la, já que nossa existência é rodeada de padrões, onde mesmo os que tentam contrariá-los acabam estabelecendo “anti-padrões”. Nem mesmo o conhecimento dessa teoria soluciona o problema...

Aleatoriedade, definitivamente, não combina com o ser humano. Bem-vindos à prisão da consciência. Liberte-se e se tornará livre !


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

As ameaçadoras 3i

Em épocas de muitos afazeres como a atual, só me resta publicar textos antigos que vou guardando na minha "sala de maturação". Esses escritos às vezes são encorpados por novas idéias, às vezes devidamente reescritos e até eventualmente apagados, o que é muito raro, mas independente do fim, eles ficam descansando até o dia em que ganham o mundo. Esse é um deles...

Existe uma categoria de mulheres muito peculiares e pra mim ameaçadoras, que atraem a minha atenção como poucas. São as que eu chamo de 3i: inteligentes, interessantes e independentes. Também existem as guerreiras 4i, que são tema de um outro post, mas as primeiras já são raras graças à nossa sociedade machista, hipócrita e discriminatória e vou me restringir às primeiras por enquanto.

Eu criei essa classificação num período breve que estive solteiro logo no início da faculdade, mas que tem relevância até hoje. O nome eu inventei recentemente, mas o conceito continua o mesmo.
Estudei numa universidade grande que fica num local chamado de cidade universitária, onde existem vários prédios que acomodam as faculdades. Perto do centro de tecnologia, onde era o meu curso, havia as faculdades de letras, arquitetura e desenho industrial, e o centro de ciências matemáticas e da natureza, ou seja, eu estava rodeado por todo tipo de pessoa.
Confesso que nessa fase a espiritualidade ficou um pouco de lado e deu espaço pra toda a razão que permeia a área de exatas. Ao contrário do que são hoje, meus critérios eram muito mais racionais do que emocionais e sendo jovem, apresentável, com um corpo bacana, um carro, ainda que popular, e aluno do curso de engenharia mais disputado da época, conheci bastantes moças nas muitas chopadas que aconteciam.

Apesar dessa aparente futilidade, algo que sempre valorizei foi a boa conversa. Foi com bons papos que a maioria das minhas namoradas me conquistou. Nesse quesito se destacam as moças inteligentes, porque na minha percepção quem possui esse atributo é aquele(a) que se pergunta os melhores e mais seqüenciados porquês e consequentemente tem muito o que oferecer num diálogo.

Já uma pessoa interessante é na minha visão alguém eclético, que tem interesses diversificados e que questiona a "(des)ordem do momento", disposto(a) no mínimo a perturbar o status quo. As interessantes, mais do que conversar, sabem se impor, compor e expor, ganhando destaque no meio do oceano da mesmice sem que isso seja ofensivo ou arrogante.

Quando além de inteligente e interessante, que são características mais freqüentes, a mulher é independente, ou seja, enfrenta um sistema que defende a existência do sexo frágil, do ser feminino que precisa de uma bengala, masculina ou não, aí temos uma combinação peculiar. A independência vai trazer a liberdade necessária pra que a inteligência e o ecletismo fluam com todo o seu potencial, vai transformar o "parecer" e o "querer ser" em "ser". Ouviremos, então, as frases convictas "eu sou" e "ela é".

Naquela época universitária, quando eu me deparava com uma mulher 3i, eu me sentia realmente desafiado, sem que essa fosse a intenção dela. Entretando, ao invés de me afugentar, essa tríade me atraía e fazendo uso da minha lógica, eu enxergava esse conjunto como uma obra-prima, que merecia antes de mais nada meu respeito, mas que também despertava o meu desejo.

Que ironia não foi namorar uma dessas mulheres e anos depois perceber que os três "is" não só não garantiriam o sucesso de um relacionamento, mas também que faltava um quarto "i" que a racionalidade tinha deixado de lado.
Só depois de um período muito espiritualizado, oculto e esotérico é que eu percebi que a intensidade é fundamental. Resumo nesse quarto elemento, por exemplo, empatia, química e outras espiritualidades. As palavras podem passar outra impressão, mas essas características são oriundas de uma abordagem etérea.

Hoje eu vejo o quão importante é reconhecer nas mulheres essas qualidades, já que eu acredito na definição de prosperidade da Cabala Judaica, onde a felicidade conjugal é um dos seus três aspectos fundamentais.
Mas independente de qualquer categorização, coração tem vida própria e uma mulher 3i vai ser sempre uma ameaça pra mim, que eu vou ter que escolher fugir ou enfrentar. Não sei porque eu ando meio fugidio. Estou precisando de uma marretada na cabeça ou ser subjugado por uma guerreira 4i ! (risos)


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

O negócio é não correr atrás: feedback dos leitores

Por incrível que pareça esse foi um post que causou polêmica. Creio que um blog não seja o local ideal para debates e por isso os leitores não utilizaram esse espaço para tecer críticas, mas a maioria dos que me lêem me conhece pessoalmente, sobrando apenas a Larissa Fontes, a Raquel Medeiros e a Claudia Alba que chegaram por aqui navegando pelo mundo virtual e com quem até agora só falo pelo MSN.

Algumas pessoas vieram discutir o tema e ouvi opiniões diferentes. Em resumo, Raquel Medeiros concorda comigo e pensa que as mulheres citadas anteriormente são mal resolvidas; Juliana Kühne, vivendo um momento meio anárquico, afirma que não há regras, cada um é de um jeito e além disso eu não estou acostumado com rejeição; Aninha diz que eu sou um recém-solteiro que não ainda sabe viver na "selva".

Larissa, a única que comentou online, entendeu o texto de uma maneira mais passional, o que não era o caso. Nos meus seis meses solteiro, só uma moça me chamou atenção de uma maneira mais contundente por termos aparentemente personalidades diferentes e vários interesses comuns, como a espiritualidade, mas justamente essa que eu estava curioso pra conhecer, eu não tive oportunidade... Aliás, conhecer gente está cada vez mais difícil ! Vou até escrever sobre isso em breve.
Portanto, não é dessas mulheres que estou falando, mas sim daquelas que encontro por aí das mais diversas maneiras e começo uma interação básica.

Já era pra eu ter publicado esse texto, mas ainda bem que não o fiz... Ontem eu saí com três amigas do MBA e tive uma aula sobre esse tema. Segundo elas agora eu, ou viro gay ou pegador ! (risos)
A idéia central, por sinal super aceitável sociologicamente, é que mulheres que são muito cobiçadas se interessam por homens que se mostram desinteressados, porque esses acabam sendo diferentes dos demais. É o aparentemente famoso "anti-mole" (risos), em que Elas são tratadas todas iguais, nenhuma se destaca ou tem qualquer diferencial.
Já as que não são tão assediadas respondem aos caras que lhes dispensam atenção. Postura plausível sim, mas até certo ponto ingênua, na medida em que o anti-mole se torna uma estratégia masculina ! Além disso, nem todos os homens estão fazendo SWOT e jogando, então a chance delas estarem comprando gato por lebre não muda.

E quando eu cheguei em casa pensei: Por que tratar as mulheres da mesma forma se elas são tão diferentes ? É um comportamento totalmente dissonante ! Pra um grupo tão sensível quanto o delas isso deveria soar o alarme geral de abandono ! Mas pensando bem, se fosse assim já estaríamos extintos...

Enfim, na minha opinião não é uma questão de rejeição ou inexperiência minha, mas sim de deselegância de algumas moças.
Existem pessoas que são essencialmente elegantes e encaram situações fáceis e difíceis com uma postura diplomática, respeitosa e afável. Tento ser assim e faço reverência aos que o são.
Em contrapartida, há indivíduos que se perdem nas suas próprias verdades, percepções e, talvez sem querer, acabam sendo deselegantes.

Continuo no meu cantinho com o chapéu...


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Conquista nada, isso é SWOT !

Como já dizia Darwin: "os mais aptos sobrevivem". E essa afirmação está sendo levada muito a sério hoje em dia no campo dos relacionamentos entre homens e mulheres.
Eu já ouvi muitos amigos dizendo "não pode ligar no dia seguinte, porque senão a moça já fica cheia de si", "ela veio com um papo de religião, inventa uma desculpa e parte pra próxima" e "com tanta fácil, por que ESCOLHER a difícil ?". Algumas amigas dizem: "não pode transar na primeira vez pra não ser vista como fácil" e "não pode demonstrar interesse pra não parecer desesperada".

Cada vez que eu ouço uma dessas pérolas, mais eu vejo que elas deixaram de ser meras frases feitas e passaram a valer como estratégias e/ou diretrizes sociais. Pra quem tem dúvida disso é só ir numa boate ou pub nos finais de semana. Vai ser fácil notar um padrão comportamental geral.

A impressão que tenho é que até o processo de conquista evoluiu e se profissionalizou. O manual do romance ficou obsoleto e foi retirado das prateleiras. Agora o best-seller é o manual do conquistador-barato for dumbies.

A idéia central desse texto de um único capítulo é que para conquistar mercado (arrumar peguetes) é preciso reconhecer o ambiente (dar uma rolé), avaliar os concorrentes (adversários) e principalmente satisfazer os clientes (vítimas).
Parece frio e calculista ? E é, pois a sedução acabou, mané ! Está ultrapassada ! Que conquista nada, o que estão fazendo agora se chama SWOT, rapaziada !!!

SWOT é uma ferramenta utilizada para fazer análise de cenário, sendo usado como base para gestão e planejamento estratégico de uma empresa, que atende aos mais diversos propósitos, desde a criação de um blog à gestão de uma multinacional. O termo SWOT é uma sigla oriunda do inglês, e é um acrônimo de Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats).

Por exemplo, o "meliante" sabe quais são suas qualidades e seus defeitos. Ele então se prepara pra batalha... Chegando na festa ele olha ao redor em busca de "piriguetes" com um determinado perfil facilitador e monitora a ação dos outros "elementos". De posse dessas informações ele monta suas estratégias e inicia a invasão. A idéia simplificada é tentar aproveitar as oportunidades usando suas forças (beleza física, xaveco, posses...) e evitar ameaças que possam tirar proveito de suas fraquezas (sacanagens, difamações, desvantagens físicas...)

E o que é um cenário delimitado, com regras, disputas, objetivos e prêmios ? Um jogo !

Eu, particularmente, só gosto de jogos de tabuleiro, de cartas, de raciocínio e alguns de videogame antigos, mas joquinhos de intriga e de subjugo eu estou fora. Nesse ponto eu sou careta e old fashioned, prefiro a sedução, a sensualidade e os olhares intencionados que criam aquela atmosfera mágica que termina em um beijo fora do espaço-tempo, "nirvânico".

Acho realmente ridículo me aproximar de uma mulher, engatilhar um papo-furado e começar uma encenação, cujo fim, conhecido de antemão por ambos, é "pegar" ela (porque "pegá-la" seria muito rebuscado pra essa oração).
Mais absurdo ainda é ver que esse tipo de interação é o mais valorizado pela grande massa de jovens adultos.
Às vezes, o contexto em que estou é tão extremo que me sinto como um portador somente de fraquezas e ameaças ! A minha sorte é que não sou um jogador...

Ainda bem que eu tenho o espírito daqueles monges beneditinos copistas que perpetuavam todas as grandes obras literárias já produzidas pela humanidade e na minha coleção está o grande manual do guerreiro da luz, meu livro de cabeceira, que mantém vivo em minha mente o verbo: Não jogue o jogo, conquiste a princesa !


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

terça-feira, 7 de abril de 2009

A vida é feita de escolhas...

Nossa percepção da realidade começa e termina em nós mesmos, só enxergamos de fato nosso próprio eu. Qualquer outra pessoa é apenas um espelho, já que interpretamo-la internamente a partir das informações recebidas pelos nossos sentidos: visão, audição, olfato... Ou seja, "conhecemos" nossa própria consciência, mas apenas percebemos o mundo externo a ela. Acredito que isso valha para todos nós.

Essa é a premissa básica que uso pra pensar em primeiro lugar em mim mesmo. EU sou e devo ser meu único problema. Os outros não são problema meu.
Problema no sentido de estabelecer meus desafios, reconhecer meus obstáculos, e a partir destes trilhar meu próprio caminho na vida, segundo os meus critérios, diante dos meus objetivos, da maneira que eu decidir. Em última instância são os MEUS processos mentais que vão definir as MINHAS escolhas.

Observação: Não estou discutindo a causa primordial do processo decisório, por exemplo, se é a razão ou se são os sentimentos. Esse dilema fica para um outro post.

Pode parecer uma reflexão um tanto quanto egoísta, mas ao contrário, ela é que faz de mim alguém altruísta. A partir do momento que entendi que cada um de nós é o único responsável por suas escolhas e que a vida é feita delas, eu vi que não faz sentido me preocupar com o próximo nesse aspecto. Por mais que eu seja bom, caridoso e solidário, por mais que eu cultive a compaixão, a cidadania e a fraternidade, nunca serei capaz de escolher por outrem.

Portanto, cada indivíduo é soberano, se uma pessoa decide mendigar, roubar, doar, tornar-se heremita, milionário ou voluntário, não há o que eu possa fazer.
Em contrapartida, eu posso criar oportunidades, expor alternativas...

A partir do momento que eu concentrei minhas energias em mim mesmo, no meu crescimento pessoal enquanto ser moral, social e espiritual, eu percebi que muitos escolhem viver uma vida de angústia, de agonia, de sofrimento e de ansiedade.
Falando esotericamente, existe uma razão pra essa conduta controversa. Na vida de sofrimento nos sentimos vivos, singulares, diferenciados, já na vida em êxtase nós "desaparecemos". Na graça estamos em unidade, nos "perdemos" como uma gota no oceano.
Talvez, então, os agoniados tenham medo de se perder de si mesmos, por isso escolheram os caminhos da agonia. E quanto mais sofrem, mais se "encontram", mais sentem que existem, que estão separados do todo.
Falando pessoalmente, eu penso que ninguém escolhe o sofrimento diretamente. Não faria sentindo... Na verdade, há uma postura egoísta, cuja origem só Freud explica, que acaba levando à dor e como sem dor não há egoísmo, forma-se um ciclo vicioso.

Essas idéias, por fim, abriram meus olhos para um outro mundo onde eu quero tentar minimizar o meu egoísmo e fazer o mesmo por alguns dos que cruzam o meu caminho. Quero evoluir tentando manter acordado o altruísmo em mim e despertando-o naqueles que se permitem.
Eu sou necessário nesse processo ? Claro que não ! Todos os recursos estão à nossa volta !
Osho diz que um mestre é necessário, não porque sem ele seja impossível alcançar a iluminação, mas porque o nosso desejo de nos tornamos iluminados não é tão forte, tão urgente ou prioritário. Ele conclama:
"Você se tornou tão agarrado à prisão, que não quer sair dela. Mesmo que as portas fiquem abertas, você não foge. Fica enganando a si mesmo sem olhar para a porta. Fica fingindo que a porta está fechada e os guardas estão lá. Mas você quer ficar na prisão; está preso demais. Investiu muito nessa prisão. Na verdade, você começou a ver a prisão como seu lar. O mundo exterior parece estranho e selvagem e você sente medo.

As pessoas têm medo da liberdade e temem conhecer a vida mais profundamente. As pessoas têm medo de amar, têm medo de ser. Viveram muito tempo na escuridão, agora temem a luz – com medo, elas não são capazes de abrir os olhos; com medo, elas estão ofuscadas, seus olhos quase destruídos; com medo, porque suas vidas na escuridão tornaram-se rotinas estabelecidas. É seguro. Por que arriscar ? Por que ir para o desconhecido e inexplorado ? A escuridão tornou-se muito familiar; de outro modo, você poderia se tornar iluminado em qualquer lugar. É o seu tesouro. Você pode reclamá-lo a qualquer momento. É surpreendente que não o tenha reclamado até agora."

Enfim, feita uma escolha, nem Buda, Cristo e Krishna juntos podem mudá-la. A responsabilidade é de quem a fez ! E refletindo sobre esse sistema, eu acredito que é bom que ele seja assim. Se pudéssemos escolher pelos outros, contra as suas vontades, a vida não teria tanto valor. Não haveria liberdade e viveríamos numa outra prisão.

Que bom que a vida é feita de escolhas; nossas escolhas.


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O Machado Tridimensional

Algumas pessoas me acham incoerente e não as recrimino, afinal, faz sentido pensar como penso e não ser recluso como aqueles poetas românticos e sisudos ? Como posso compor, recitar, amar e ao mesmo tempo fechar a pista dançando música de preto, de índio e de branco ou subir no palco pra cantar ao vivo ? Como posso descompromissadamente flertar e até beijar ?
Pelo visto pra elas eu só seria coerente se tivesse pele verde, um cabeção, enormes olhos pretos e um par de anteninhas ! (risos)

Admito, sou desequilibrado mesmo, às vezes bambeio pra lá e pra cá como uma gangorra, mas esse desequilíbrio não é moral, nem racional. Não tenho nenhuma patologia, nem sou insano. Eu me manifesto como um pêndulo dimensional, que ora é divino, ora é profano.

Tenho que admitir que não é incomum os homens falarem diferente do que pensam e agirem diferente do que falam e do que pensam. Somos uma espécie arredia, misteriosa e frívola (não todos, é claro).
Um dia eu decidi lutar contra a minha frivolidade, lá atrás na adolescência. Depois de uma puxada de orelha, de cuja dor lembro até hoje, eu busquei me tornar uma pessoa comprometida, transparente e sincera. Essa última é a mais difícil e a mais recompensadora...
Portanto, acho super curioso o fato de alguns ainda não acreditarem nas minhas palavras e nos meus valores e por isso resolvi tentar entender o porquê dessa incredulidade.

Percebi que sou um ser com três dimensões, a saber: pessoal, interpessoal e transpessoal. Eu ia dizer que todos somos tridimensionais, mas minha amiga Ana Luisa me disse que estou sendo muito cartesiano e como Descartes é praticamente meu anti-herói vou me ater a mim mesmo.
Enfim, a minha dimensão pessoal é aquela que contém a minha consciência, a minha mente, a minha lógica e todas as características falíveis que tenho, impulsos, desejos, perversões, e por que não desvios ? Já a transpessoal é aquela onde estão representadas todas as ligações extra-humanas, meu espírito, minha porção esotérica, divina, que ama intensamente e tem fé.
Os contructos formados a partir dessas duas dimensões se expressam através da dimensão interpessoal, que são todas as relações em que me envolvo ao longo da vida.
Não bastasse isso, ainda me realimento das informações que recebo dessas interações, o que eventualmente influecia meu eu pessoal. É complicado...

Essa divisão, apesar de um pouco infantil e talvez estúpida, sugere porque me comporto de forma multifacetada. Na verdade, a culpa é da razão e da fé que brotam em mim alternadamente, sem que eu tenha o menor controle sobre o seu surgimento. Eu até poderia em alguns casos pedir ajuda pra minha moral, mas como todos sabem, o meu superego está de licença médica. A boa notícia é que ele já saiu da UTI e está se recuperando bem. (risos)

Sendo assim, o máximo que posso fazer é falar a verdade, como estou fazendo agora, mas sei que haverá sempre os crentes e os descrentes...

E por fim, lhes peço: qualquer que seja o caso não se assustem e não me crucifiquem ! Independente do eu em vigor, o do anjinho ou o do diabinho, me arrisco dizer que o respeito está sempre presente.

Lembrem-se: de bem intencionados o inferno está cheio, assim como de mal intencionados o céu também está cheio !


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Deus não joga dados. E nós ?

Continuando as reflexões sobre o tempo, não posso deixar de discorrer brevemente sobre o modelo que eu acredito reger o meu universo.
Antes disso, porém, é necessário frisar que eu não posso provar que o que é real pra mim o é para os outros. Essa perspectiva se chama solipsismo e diz que só podemos considerar verdadeiros os nossos próprios processos mentais, ou seja, de maneira bem simplista, posso dizer que a percepção que cada um de nós tem do mundo exterior, incluindo até as outras pessoas, não necessariamente é a mesma, portanto não pretendo apontar a verdade absoluta, somente a minha verdade.

Terminei o último "post" dizendo que não estamos sujeitos à aleatoriedade. Eu quis dizer que não vivemos num sistema livre onde os eventos acontecem ao acaso, não é a sorte que define o próximo instante. A vida parece ser um processo contínuo causal com muitas variáveis, de modo que a capacidade do ser humano é insuficiente para modelá-lo. Portanto, creio que Deus não conduz o universo de maneira desregrada, ele não é um jogador de dados, nós é que não conhecemos as regras do jogo !
Em virtude disso nos valemos das ferramentas disponíveis para tentar prever os fenômenos e assim controlar nossas vidas.

Uma dessas ferramentas é a Teoria das Probabilidades, ciência que tenta quantificar a possibilidade de um evento futuro. Através dela podemos calcular a chance de um raio cair em alguém ou de chover daqui a três dias. Outra alternativa é a Estatística, cujo objetivo é medir a freqüência de ocorrência de eventos passados, além de determinar possíveis correlações e relações de causalidade entre eles. A análise dos dados estatísticos também serve para estimar ou possibilitar a previsão de fenômenos futuros.

Entretanto, esses recursos são extremamente limitados para alguns propósitos práticos. Eles só se verificam em situações controláveis e ideiais que não existem na Natureza. A probabilidade de obtermos CARA ao jogar uma moeda é de 50%, mas quando de fato pegamos uma moeda na carteira e a jogamos, não antevemos qual lado cairá pra cima, ou seja, a ciência nós dá somente uma estimativa, nada mais. Ainda que tentássemos verificar estatisticamente a probabilidade conhecida, jogando inúmeras vezes a mesma moeda, as várias condições existentes no ambiente são tão dinâmicas, heterogêneas e finitas que seria impraticável comprovar o percentual probabilístico.

Acima de tudo, existe um elemento incontrolável que torna algumas previsões extremamente frágeis, o livre arbítrio. Dentro de uma razoabilidade posso dizer que o ser humano possui a capacidade de escolher livremente seu próximo passo. Eu sei que a cultura, a ética e as leis influem nesse processo, mas o que quero dizer é que na maioria dos casos podemos escolher se vamos ou não limpar o ouvido.

Por conta do livre arbítrio, a Probabilidade e a Estatística se tornam um jogo perigoso quando utilizado para prever situações que envolvam pessoas, capaz de distorcer a realidade e criar o mundo das ilusões . Ao utilizarmos essas ciências para, por exemplo, tentar antecipar qual será o caminho mais seguro (sem assalto) para seguirmos uma viagem de carro estamos abandonando nossa liberdade de arbitrar nossas vidas e cedendo nosso direito para os bandidos. Por que ?
Porque a chance de sermos assaltados está sendo estimada com base nas escolhas de cometer ou não assaltos feitas pelos bandidos anteriormente ou com base no padrão comportamental possível deles. Portanto, se os bandidos decidirem agir como sempre agiram estamos a salvo, senão precisaremos ser salvos ! Como eles provavelmente fazem uso do próprio livre arbítrio só nos resta gritar: Socorro !!!

PAUSA PARA PENSAR EM OUTROS EXEMPLOS,

Enfim, já que nós não temos controle sobre a vida, não há nada mais frustrante do que abrir mão daquilo que nos resta, pois dessa forma assumimos o papel de meros mamulengos num teatro vazio, onde a platéia inteira dorme e sonha que as cordas não existem.
Por isso eu tento me manter acordado e viver de forma que minhas escolhas não sejam melhores nem piores, boas nem más, sejam simplesmente escolhas minhas.

PAUSA PARA REFLEXÃO,

Fica a pergunta: Somos espíritos livres ou prisioneiros da nossa própria ignorância ?

...TEMPO DE SOBRA PARA SE LIBERTAR...


Saudações fraternais,

Fabio Machado.