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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A vida ou a SUA vida ? Reflexões

Foram muitos comentários interessantes sobre o post anterior, algumas conversas profundas, contudo, o mais curioso foram as associações que algumas pessoas fizeram com a morte. Como o próprio título já diz, o texto é sobre a vida, talvez contextualizada de maneira muito material, mas ainda sim esse é o foco.




Como alguns perceberam, uma vez dentro da sala, qualquer alternativa escolhida levaria à morte. A questão fundamental era a escolha entre a própria vida ou a vida.

A dúvida pode ser interpretada como o medo do sofrimento, o medo do desconhecido. Entretanto, temos aqui um paradoxo, pois se para evitar o sofrimento próprio, uma pessoa decidisse não apertar nenhum botão, era estaria escolhendo o próprio sofrimento. No meu entendimento, não apertar nenhum botão é a pior alternativa.



Talvez a escolha de viver sozinho não seja uma morte óbvia, mas mesmo os heremitas estão ligados à sociedade na medida em que a negaram. A negação é o vínculo entre os dois e além disso, a qualquer momento esse indivíduo solitário sabe que pode "voltar". O vínculo e o livre arbítrio o tornam vivo.
Já um sobrevivente verdadeiramente sozinho não tem opção. Sem o feedback de outras pessoas, sem seus espelhos, ela não será capaz de se reconhecer, perderá sua identidade e assim, morrerá, mesmo que seu coração ainda esteja batendo.


Isso acontece porque a vida é muito mais do que um conjunto de reações bioquímicas, do que um aglomerado de moléculas, muito mais do que a consciência em si. A vida é uma rede viva, pulsante e dinâmica, inteligente a ponto de aprender consigo mesma e evoluir. A vida é criação, destruição e recriação além de seus limites imagináveis. A vida é a pura inspiração !



Enfim, o teste nada mais era do que uma forma de avaliarmos se a existência individual é mais importante que o princípio vital universal. Na minha opinião, a minha vida não é o que há de mais importante, apesar de só eu poder vivê-la. Eu apertaria o botão que me mataria, consciente de que estaria preservando algo que está além do tempo, além do espaço, muito além de mim.
Sem mim a vida continua fazendo sentindo, mas sozinho eu não faço.


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

domingo, 21 de junho de 2009

O paradoxo do simulador

No penúltimo post eu falei sobre a busca por padrões, um mecanismo humano de auto-preservação. Recebi dois e-mails pedindo pra eu explicar melhor a relação entre o estabelecimento de padrões e o futuro e por isso resolvi escrever esse texto, que complementa o anterior.

Algo inexplicável até hoje é o fato de não termos acesso epistemológico ao futuro, ou seja, não "lembramos" do amanhã assim como lembramos do ontem. Parece simples, mas nenhuma filosofia ou modelo científico consegue explicar porque temos essa relação unilateral com o tempo. Como consequência desse desconhecimento dos eventos vindouros, nós criamos certos padrões para que possamos fazer escolhas que nos dêem maior chance de sucesso (felicidade) ou menor risco de fracasso (frustração), essa é a minha teoria.

Por exemplo, se o céu está nublado, quem não gosta de se molhar sai de casa com guarda-chuva, mesmo sem saber se vai realmente chover. Se estamos num local isolado e escuro, e escutamos um barulho esquisito, ficamos atentos e/ou buscamos claridade, mesmo sem saber se o causador do som é um inseto inofensivo, uma fera selvagem ou qualquer outra coisa. Se uma mulher tem a razão (proporção) entre o comprimento da cintura e do quadril igual a 0,7 ela desperta o interesse do homem por parecer mais apta a perpetuar a espécie, independente de querer ter filhos. Relações como essas entre o céu nublado e a chuva, o barulho e o perigo, o contorno corporal e a perpetuidade são estabelecidas por cada um de nós e a todo instante estamos analisando a vida, consultando esses padrões registrados em nossa memória e tomando atitudes em função deles. E na medida em que supomos que vai chover, que seremos atacados ou que tal mulher dará a luz com mais facilidade estamos tentando prever o futuro. É assim que buscamos a "felicidade", é assim que tentamos construir a nossa "sorte".

Foi então que assistindo o filme "A mulher invisível" na semana passada, eu vi uma cena onde uma esposa se separava do cônjuge, argumentando que ele era o melhor marido do mundo e que o relacionamento entre eles era perfeito e, segundo ela, mulher nenhuma gosta disso. Na hora aquilo "bateu" mal e eu pensei imediatamente nas inúmeras vezes que ouvi mulheres dizendo que queriam "um amor pra vida toda", "um homem perfeito", "um relacionamento sem desentendimentos"... Fiquei me perguntando: será que as pessoas gostariam de saber o futuro ou não ?

Elaborei, então, um teste pra tentar responder essa pergunta. Algumas mulheres serviram de cobaias e o resultado foi um tanto paradoxal.
Primeiro eu criei uma situação hipotética onde existiria uma máquina com uma super tecnologia capaz de simular uma realidade perfeitamente, mais ou menos como a do filme Matrix. A diferença é que nessa minha versão seria possível escolher o próprio futuro antes de entrar na máquina, ou seja, a pessoa antes de ser conectada poderia definir como queria viver até que o seu corpo físico morresse. Eu até pensei em incluir a possibilidade de "lembrar" do futuro nessa realidade alternativa, mas achei que ficaria complexo demais imaginar esse cenário.
Feito isso, eu disse pra cada uma das minhas entrevistadas que elas tinham conquistado como prêmio, o direito de se conectar ao "simulador de realidade", desde que aceitassem permanecer assim pra sempre. Antes de serem ligadas ao equipamento, elas poderiam escolher nos mínimos detalhes a vida que quisessem levar, mas não teriam lembrança da existência desse processo de escolha. A nova realidade seria "perfeita" e pareceria uma continuação da realidade original, sem qualquer tipo de anomalia, singularidade ou descontinuidade.
Para os psicólogos: detalhes como defeitos no simulador, alimentação da pessoa, estímulo aos sentidos, etc, seriam 100% controlados de forma que a percepção da realidade original seria invariavelmente nula !

Curiosamente, todas responderam que recusariam o prêmio e que não se interessavam por uma vida pré-determinada. Os motivos foram diferentes, uma disse que as coisas boas e ruins faziam parte do crescimento pessoal, outra que o que ela quer pro futuro hoje, ela pode não querer amanhã e uma terceira, que preferia ter o direito de arriscar.
Apesar de ter sido uma pesquisa amadora eu me deparei com um paradoxo, já que essas pessoas tentam adivinhar o futuro o tempo todo, mas não gostariam de conhecê-lo antecipadamente, se isso fosse possível.

Refletindo sobre esse assunto, o que me ocorreu é que talvez as pessoas não saibam o que querem, apenas saibam o que não querem. Nesse caso, conhecer o futuro realmente seria irrelevante, já que só existimos no presente e só experimentaremos e reagiremos ao futuro quando ele chegar.
Entretanto, se é dispensável antever o futuro, só nos resta viver da melhor maneira possível o presente, mas viver de verdade o agora sem se preocupar com o que virá depois exige desprendimento, dinamismo, resiliência e rapidez, caraterísticas que esbarram na poderosa inércia psíquica. Bem, ninguém disse que seria fácil...

Ficou por fim uma curiosidade: Será que alguém gostaria de se ligar ao simulador ?


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

sábado, 13 de junho de 2009

Obstáculos à Felicidade II: A inércia psíquica

Passei os últimos meses pensando no assunto desse post. Quando eu escrevi que nós mesmos somos o primeiro obstáculo à felicidade eu achava que publicaria uma série de textos citando outras dificuldades.
Primeiro defini a próxima barreira como sendo a religião, depois, pensando melhor, percebi que o fanatismo, esse sim era um grande problema, mas por último entendi que a imutabilidade era o ponto chave, a causa fundamental de todos os anteriores, afinal, dogmas não são impostos, dogmas são aceitos !
Comecei a escrever, mas algo me incomodava, eu lia minhas próprias palavras e sabia que aquilo estava incompleto ou era uma simplificação incorreta. Um belo dia apaguei tudo e resolvi observar, perceber e refletir.

Estou certo de que mudança não é uma escolha. Tudo muda independente da nossa vontade, até porque energia tem uma natureza intrinsecamente metamórfica e tudo é energia. Esses processos podem até seguir uma lei primordial como alguns físicos e astrofísicos acreditam, mas ela não deixará de ser uma Lei Universal da Mudança.
Portanto, nossas escolhas não são capazes de imutabilizar; pelo contrário, elas é que podem nos levar em direção aos nossos sonhos e objetivos. Por isso, nós somos nosso primeiro entrave.

Entretanto, é notório que mudar é assustador para muitas pessoas e a mesmice provoca uma certa sensação de segurança. Mas por que ? Por que diante de algumas situações tristes, relacionamentos frustrados ou empregos desumanos não fazemos valer nosso livre arbítrio e mudamos a nossa realidade ? A princípio, a "materialização" de uma vontade deveria ser capaz de resolver essas questões, mas não é tão simples assim...
Tentando responder essa pergunta é que eu tive um insight interessante duas semanas atrás, que venho maturando até agora.

Todos nós (acho essa uma generalização bem razoável) buscamos padrões. A padronização envolve processos como comparação, associação, correlação, classificação e registro, e talvez tenha sido a grande responsável pelo sucesso da nossa espécie. Alguém pode dizer que existem outros mecanismos importantes como a abstração, mas eles não vão afetar a minha teoria.
Padronizar até certo ponto nos promove a "futurólogos" ou profetas, que tentam prever o porvir com base em nossos padrões pré-existentes em busca de segurança, e quanto mais seguros nos sentimos, menos ansiosos somos; e quanto menos ansiedade temos, menos deterioramos nossa fisiologia e assim, maior é a nossa longevidade. Bingo !
Se minhas idéias estiverem certas, esse comportamento está enraizado nos nossos planos inferiores de consciência, imerso em nosso instinto de sobrevivência.

Essa pseudo-segurança transcende o estado mental corrente, criando um obstáculo ainda mais desafiador, uma versão inconsciente do primeiro, que eu batizei de inércia psíquica.
Definindo de forma leiga, a inércia é uma propriedade da matéria (e da energia) que descreve uma tendência dos corpos de permaneceram em seu estado atual e a mesma parece valer para a psiquê.
De alguma forma muito sinistra, nos mantemos em um estado psíquico que nem mesmo nossas vontades conscientes conseguem mudar fácil. Primeiro, porque não somos capazes de acessar diretamente o inconsciente e alterá-lo. Além do mais, acredito haver uma consonância natural entre nossos planos de consciência e por mais que possamos agir livremente, se o fazemos, a mudança repentina de comportamento cria uma divergência entre o consciente e o inconsciente, uma dissonância que é desconfortável e ameaçadora na medida em que o último não consegue acompanhar o primeiro.

Por exemplo, alguém que tem pavor de sapo devido a um evento traumático qualquer, não consegue pegar o anfíbio com a mão, nem que isso seja uma escolha mental, porque o trauma registrado no insconsciente não pode ser apagado instantaneamente e pegá-lo seria inseguro. Alguém que vive um relacionamento ruim, não o abandona, pois mesmo que as emoções vividas sejam negativas, elas são conhecidas e consequentemente seguras. Abandoná-lo significaria viver emoções novas, que independente da sua natureza, seriam inseguras. Existem inúmeros outros exemplos, mas a idéia é que cada um reconheça os seus.

O mais curioso é que na verdade não temos controle sobre a vida ou sobre o tempo e por mais que a inércia psíquica seja um mecanismo de proteção, ela é fundamentada na falsa premissa da previsibilidade do futuro. Infelizmente, até agora não consegui pensar numa maneira de evitá-la ou contorná-la, já que nossa existência é rodeada de padrões, onde mesmo os que tentam contrariá-los acabam estabelecendo “anti-padrões”. Nem mesmo o conhecimento dessa teoria soluciona o problema...

Aleatoriedade, definitivamente, não combina com o ser humano. Bem-vindos à prisão da consciência. Liberte-se e se tornará livre !


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

terça-feira, 7 de abril de 2009

A vida é feita de escolhas...

Nossa percepção da realidade começa e termina em nós mesmos, só enxergamos de fato nosso próprio eu. Qualquer outra pessoa é apenas um espelho, já que interpretamo-la internamente a partir das informações recebidas pelos nossos sentidos: visão, audição, olfato... Ou seja, "conhecemos" nossa própria consciência, mas apenas percebemos o mundo externo a ela. Acredito que isso valha para todos nós.

Essa é a premissa básica que uso pra pensar em primeiro lugar em mim mesmo. EU sou e devo ser meu único problema. Os outros não são problema meu.
Problema no sentido de estabelecer meus desafios, reconhecer meus obstáculos, e a partir destes trilhar meu próprio caminho na vida, segundo os meus critérios, diante dos meus objetivos, da maneira que eu decidir. Em última instância são os MEUS processos mentais que vão definir as MINHAS escolhas.

Observação: Não estou discutindo a causa primordial do processo decisório, por exemplo, se é a razão ou se são os sentimentos. Esse dilema fica para um outro post.

Pode parecer uma reflexão um tanto quanto egoísta, mas ao contrário, ela é que faz de mim alguém altruísta. A partir do momento que entendi que cada um de nós é o único responsável por suas escolhas e que a vida é feita delas, eu vi que não faz sentido me preocupar com o próximo nesse aspecto. Por mais que eu seja bom, caridoso e solidário, por mais que eu cultive a compaixão, a cidadania e a fraternidade, nunca serei capaz de escolher por outrem.

Portanto, cada indivíduo é soberano, se uma pessoa decide mendigar, roubar, doar, tornar-se heremita, milionário ou voluntário, não há o que eu possa fazer.
Em contrapartida, eu posso criar oportunidades, expor alternativas...

A partir do momento que eu concentrei minhas energias em mim mesmo, no meu crescimento pessoal enquanto ser moral, social e espiritual, eu percebi que muitos escolhem viver uma vida de angústia, de agonia, de sofrimento e de ansiedade.
Falando esotericamente, existe uma razão pra essa conduta controversa. Na vida de sofrimento nos sentimos vivos, singulares, diferenciados, já na vida em êxtase nós "desaparecemos". Na graça estamos em unidade, nos "perdemos" como uma gota no oceano.
Talvez, então, os agoniados tenham medo de se perder de si mesmos, por isso escolheram os caminhos da agonia. E quanto mais sofrem, mais se "encontram", mais sentem que existem, que estão separados do todo.
Falando pessoalmente, eu penso que ninguém escolhe o sofrimento diretamente. Não faria sentindo... Na verdade, há uma postura egoísta, cuja origem só Freud explica, que acaba levando à dor e como sem dor não há egoísmo, forma-se um ciclo vicioso.

Essas idéias, por fim, abriram meus olhos para um outro mundo onde eu quero tentar minimizar o meu egoísmo e fazer o mesmo por alguns dos que cruzam o meu caminho. Quero evoluir tentando manter acordado o altruísmo em mim e despertando-o naqueles que se permitem.
Eu sou necessário nesse processo ? Claro que não ! Todos os recursos estão à nossa volta !
Osho diz que um mestre é necessário, não porque sem ele seja impossível alcançar a iluminação, mas porque o nosso desejo de nos tornamos iluminados não é tão forte, tão urgente ou prioritário. Ele conclama:
"Você se tornou tão agarrado à prisão, que não quer sair dela. Mesmo que as portas fiquem abertas, você não foge. Fica enganando a si mesmo sem olhar para a porta. Fica fingindo que a porta está fechada e os guardas estão lá. Mas você quer ficar na prisão; está preso demais. Investiu muito nessa prisão. Na verdade, você começou a ver a prisão como seu lar. O mundo exterior parece estranho e selvagem e você sente medo.

As pessoas têm medo da liberdade e temem conhecer a vida mais profundamente. As pessoas têm medo de amar, têm medo de ser. Viveram muito tempo na escuridão, agora temem a luz – com medo, elas não são capazes de abrir os olhos; com medo, elas estão ofuscadas, seus olhos quase destruídos; com medo, porque suas vidas na escuridão tornaram-se rotinas estabelecidas. É seguro. Por que arriscar ? Por que ir para o desconhecido e inexplorado ? A escuridão tornou-se muito familiar; de outro modo, você poderia se tornar iluminado em qualquer lugar. É o seu tesouro. Você pode reclamá-lo a qualquer momento. É surpreendente que não o tenha reclamado até agora."

Enfim, feita uma escolha, nem Buda, Cristo e Krishna juntos podem mudá-la. A responsabilidade é de quem a fez ! E refletindo sobre esse sistema, eu acredito que é bom que ele seja assim. Se pudéssemos escolher pelos outros, contra as suas vontades, a vida não teria tanto valor. Não haveria liberdade e viveríamos numa outra prisão.

Que bom que a vida é feita de escolhas; nossas escolhas.


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Resenha sobre o Amor

Há muito tempo eu quero escrever sobre o Amor, talvez porque eu tenha uma percepção peculiar Dele, talvez porque sem Ele eu não faça sentido. A verdade, pelo menos a minha, é que o Amor independe de todo o resto, é atemporal, infinito, incomensurável. Ele simplesmente é !

Por isso nos meus "posts" anteriores eu mencionei em breves passagens que o Amor se confunde com Deus e que ambos são eternos. Sendo assim, como é possível justificar essa "energia" quando milhões de amantes se separam e deixam de se amar ? Como podemos dizer "eu te amo" um dia e "o que sinto é um amor fraternal" no outro ? Ou ainda, por que o amor maternal é diferente do amor conjugal ? Não seria ele o pilar fundamental de todos os relacionamentos interpessoais ?

Tentei imaginar quando o ser humano sentiu sua conexão com o Amor pela primeira vez e cogitei ter sido no momento em que passamos a nos ressentir pela morte de outrem. Até então não havia sociedade organizada, cultura, família, tempo, Deus... somente uns nômades que vagavam pelas pradarias tentando sobreviver, um dia após o outro. Entretanto, desde que passamos a dar valor a existência de um outro ser, a ponto de lamentar a sua ausência, sentimos pela primeira vez o que é amar. Posso estar errado ? Claro ! Eu sou cheio de TEORIAS...

Eu também acreditava que só havia um tipo de Amor, independente do contexto. Não me fazia o menor sentido a existência de nuances e algo assim parecia ter sido inventado pelo Homem com o objetivo de justificar algo.
Mas eu ainda precisava encontrar um entendimento do Amor que respeitasse minhas crenças. Uma das doutrinas que tem o meu profundo respeito é a Cabala Judaica, que eu tive conhecimento através do meu recém falecido tio e que estudei um pouco mais num período breve em que convivi com a comunidade judaica. Ela diz que almas gêmeas existem e até então eu acreditava que essa nossa contraparte divina representava um Amor eterno e indissolúvel.
E assim eu vivia: sorrindo, chorando, me apaixonando, desejando, gozando, sofrendo, doendo... amando sem saber o que era amar. Hoje, eu amo (ponto final).

Amar pra mim é essencialmente um verbo intransitivo, nós simplesmente amamos, não amamos o que ou quem. Na minha fé é impossível ser feliz sem amar, mas não somos capazes de nos conectar a esse Amor diretamente, ele é muito sublime e etéreo para a nossa brutalidade. Precisamos de canais para alcançá-lo, que são simbolizados através de algum objeto, concreto ou abstrato. O grande canal do sacerdote é a prece; o do monge budista é a meditação; o da mãe são os filhos; o do heremita é a liberdade; o do misantropo é, por exemplo, a natureza; o da maioria das pessoas são os amigos e por aí vai. Para aquele que refuta todos esses, ainda há o amor-próprio, nosso canal primordial. Sem ele a vida perde o seu sentido e pra mim é o ponto de partida para o suicídio... Logo, cada um de nós deve buscar os seus canais, pois é através deles que amamos !

Essa idéia me permitiu entender que os vários tipos de Amor foram inventados por nós mesmos para nos proteger. Não suportaríamos viver acreditando que um grande amor se acabou e preferimos justificar seu término pensando que na verdade aquele era apenas um amor fraternal, que o verdadeiro amor está por aí nos esperando. Seria difícil sofrer a morte de um pai e apenas chorar a morte de um amigo sem a existência do amor paternal como explicação.

Até hoje só conheci uma pessoa que deduziu dessa mesma forma, uma moçoila que acabo de conhecer chamada Luciana Guerreiro. Foi interessante ver alguém realizar em poucos instantes o que me levou uma eternidade...

Também voltei a acreditar em almas-gêmeas. Fazendo referência ao meu post anterior, nossa cara-metade teria então vibração idêntica à nossa e a empatia criada entre os dois seria máxima. Resumindo, seria o canal perfeito, a conexão mais poderosa com o Amor, com Deus.
Só resta saber se a perfeição desse canal supera a imperfeição do Homem...

Enfim, se considerarmos que amamos da mesma maneira através de nossos canais tudo se esclarece. Às vezes um deles se fecha, mas há muitos nos esperando. Alguns são mais intensos que outros, mas todos são importantes.

PAUSA PARA REFLEXÃO.

Dito isso, vou usar a construção frasal tradicional com o verbo transitivo a partir de agora. Talvez escrever "eu amo através do meu sobrinho" seja incômodo pra alguns leitores ! (risos)

Podemos (e devemos) amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Poderíamos até ter e amar mais de um cônjuge, e não o fazemos por uma questão cultural, por conta das convenções sociais, tanto que há países com cultura poligâmica.

Entretanto, amar pode se tornar complicado, porque o Amor é algo que está impregnado no espírito, mas certas demonstrações são selvagens, como o sexo, que está impregnado no corpo. Esse teor mais denso, explica porque uma pessoa que ama outra tem desejo por uma terceira. Nossos impulsos e opiniões são fortemente incluenciados por fatores externos socio-culturais e assim, não é raro, acabamos confundindo, consciente ou inconscientemente, Amor, sexo e cobiça.
Talvez por isso a natureza tenha criado a paixão que, acima de tudo, é super simples ! Se o ser humano não se apaixonasse já estaríamos extintos !

Enfim, nosso aspecto mundano nos conduz por caminhos sinuosos, em que nos preocupamos com o passado, com o futuro, com a razão, com a moral, com a cultura e com a sociedade e diante deles nos afastamos da nossa verdadeira busca. Tento me manter no caminho. Por vezes escorrego, mas levanto e sigo.

Tenho certeza que o Amor esteve, está e estará, mas ele é realmente importante hoje; agora. E eu amo muito !


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Deus não joga dados. E nós ?

Continuando as reflexões sobre o tempo, não posso deixar de discorrer brevemente sobre o modelo que eu acredito reger o meu universo.
Antes disso, porém, é necessário frisar que eu não posso provar que o que é real pra mim o é para os outros. Essa perspectiva se chama solipsismo e diz que só podemos considerar verdadeiros os nossos próprios processos mentais, ou seja, de maneira bem simplista, posso dizer que a percepção que cada um de nós tem do mundo exterior, incluindo até as outras pessoas, não necessariamente é a mesma, portanto não pretendo apontar a verdade absoluta, somente a minha verdade.

Terminei o último "post" dizendo que não estamos sujeitos à aleatoriedade. Eu quis dizer que não vivemos num sistema livre onde os eventos acontecem ao acaso, não é a sorte que define o próximo instante. A vida parece ser um processo contínuo causal com muitas variáveis, de modo que a capacidade do ser humano é insuficiente para modelá-lo. Portanto, creio que Deus não conduz o universo de maneira desregrada, ele não é um jogador de dados, nós é que não conhecemos as regras do jogo !
Em virtude disso nos valemos das ferramentas disponíveis para tentar prever os fenômenos e assim controlar nossas vidas.

Uma dessas ferramentas é a Teoria das Probabilidades, ciência que tenta quantificar a possibilidade de um evento futuro. Através dela podemos calcular a chance de um raio cair em alguém ou de chover daqui a três dias. Outra alternativa é a Estatística, cujo objetivo é medir a freqüência de ocorrência de eventos passados, além de determinar possíveis correlações e relações de causalidade entre eles. A análise dos dados estatísticos também serve para estimar ou possibilitar a previsão de fenômenos futuros.

Entretanto, esses recursos são extremamente limitados para alguns propósitos práticos. Eles só se verificam em situações controláveis e ideiais que não existem na Natureza. A probabilidade de obtermos CARA ao jogar uma moeda é de 50%, mas quando de fato pegamos uma moeda na carteira e a jogamos, não antevemos qual lado cairá pra cima, ou seja, a ciência nós dá somente uma estimativa, nada mais. Ainda que tentássemos verificar estatisticamente a probabilidade conhecida, jogando inúmeras vezes a mesma moeda, as várias condições existentes no ambiente são tão dinâmicas, heterogêneas e finitas que seria impraticável comprovar o percentual probabilístico.

Acima de tudo, existe um elemento incontrolável que torna algumas previsões extremamente frágeis, o livre arbítrio. Dentro de uma razoabilidade posso dizer que o ser humano possui a capacidade de escolher livremente seu próximo passo. Eu sei que a cultura, a ética e as leis influem nesse processo, mas o que quero dizer é que na maioria dos casos podemos escolher se vamos ou não limpar o ouvido.

Por conta do livre arbítrio, a Probabilidade e a Estatística se tornam um jogo perigoso quando utilizado para prever situações que envolvam pessoas, capaz de distorcer a realidade e criar o mundo das ilusões . Ao utilizarmos essas ciências para, por exemplo, tentar antecipar qual será o caminho mais seguro (sem assalto) para seguirmos uma viagem de carro estamos abandonando nossa liberdade de arbitrar nossas vidas e cedendo nosso direito para os bandidos. Por que ?
Porque a chance de sermos assaltados está sendo estimada com base nas escolhas de cometer ou não assaltos feitas pelos bandidos anteriormente ou com base no padrão comportamental possível deles. Portanto, se os bandidos decidirem agir como sempre agiram estamos a salvo, senão precisaremos ser salvos ! Como eles provavelmente fazem uso do próprio livre arbítrio só nos resta gritar: Socorro !!!

PAUSA PARA PENSAR EM OUTROS EXEMPLOS,

Enfim, já que nós não temos controle sobre a vida, não há nada mais frustrante do que abrir mão daquilo que nos resta, pois dessa forma assumimos o papel de meros mamulengos num teatro vazio, onde a platéia inteira dorme e sonha que as cordas não existem.
Por isso eu tento me manter acordado e viver de forma que minhas escolhas não sejam melhores nem piores, boas nem más, sejam simplesmente escolhas minhas.

PAUSA PARA REFLEXÃO,

Fica a pergunta: Somos espíritos livres ou prisioneiros da nossa própria ignorância ?

...TEMPO DE SOBRA PARA SE LIBERTAR...


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O tempo é uma via de mão única, sem retorno !

Eu recebi um e-mail fantástico em resposta ao meu "post" sobre o luto. Inacreditavelmente eu CORROMPI a mensagem ao tentar movê-la de uma pasta pra outra no Outlook Express ! Já tentei usar uns programas de recuperação, mas nada ajudou. A única coisa que ficou registrada foi o nome da brilhante pensadora: Fernanda Mendes.
Em sua homenagem eu vou escrever dois textos, onde tentarei contra-argumentar alguns pontos e detalhar outros. Espero que você reapareça.

É impressionante como as pessoas convivem mal com o TEMPO ! Fico observando como é comum confortar-se ou atormentar-se engendrando situações fictícias, com critérios absurdos que resultam em conclusões falsas e perniciosas.

O tempo é um meio indefinido onde se desenrolam, de forma irreversível, as existências, os acontecimentos e os fenômenos na sua invariável mutabilidade. De forma mais simples, é uma ferramenta útil inventada pelo Homem para mensurar a progressão dos eventos que percebemos como VIDA.

Definido dessa forma ele nada mais é do que uma variável utilizada para modelar processos do nosso universo e como tal, deveria ser restrito a esse propósito. Infelizmente, a maioria de nós a usa de forma impensada.

Imagino que a invenção do tempo tenha sido um processo natural, já que o ser humano tem uma tendência a buscar padrões. Apesar da Natureza se manifestar de forma livre e por vezes aparentemente caótica, é possível observar determinados ciclos bem definidos, com início, meio e fim. O tempo é uma alternativa para equacioná-los e registrá-los de maneira estruturada.

Assim, a partir da sua criação o tempo se uniu ao espaço (as dimensões) e invadiu as profundezas das nossas mentes. Surgiram, presente, passado e futuro; consciência, memória e aprendizado.
Quanto mais evoluímos, mais complexa é a sua participação na nossa História.

Não sei ao certo, mas provavelmente foram nossos antepassados gregos que ao estudar o tempo (cronologia) perceberam que não temos acesso epistemológico ao futuro, ou seja, não somos capazes de saber no presente o que ainda vai acontecer. Por outro lado, conseguimos lembrar, mesmo que parcialmente, o que já foi vivido. Acessamos epistemologicamente o passado.

Nossas equações não são capazes de explicar essa peculiaridade, mas é fato que essa é uma regra da vida, pelo menos pra mim. Se alguém consegue antever o porvir de forma recorrente e inerrante, ou está perdido, ou nós estamos perdidos, porque ele(a) escolheu não nos contar o que nos espera ! (risos)
Além disso não conseguimos voltar no tempo ou mudar eventos passados. O fluxo temporal é sempre contínuo e inalterável. "Better get used to it" !

Apesar dessas limitações, dá-se um jeito de tentar burlá-las segundo uma estranha (in)conveniência. Vamos supor que uma pessoa que viaja sempre de avião se atrase 10 minutos e perca um vôo, por exemplo, porque pegou um engarrafamento no caminho A, enquanto um caminho B estava livre. Ela fica se lamentando e considera que se pegasse o caminho B chegaria em tempo hábil. Entretanto, se ela descobre que o avião que foi perdido sofreu uma pane fatal e caiu, ela se conforta e entende que se não fosse o engarramento ou se tivesse usado o caminho B teria morrido.
Mas afinal o caminho A é bom ou ruim ?

Ambas as considerações feitas são completamente falsas ! Até que me provem o contrário é IMPOSSÍVEL afirmar o que teria acontecido se a pessoa tivesse seguido pelo caminho B ! Ao nos permitirmos supor um evento passado diferente, somos obrigados a considerar infinitos eventos subsequentes possíveis, iguais e diferentes do que realmente se sucedeu, e não uma sequência específica qualquer ao nosso bel prazer.

Quando supomos o uso do caminho B adentramos o campo da hipótese, da fantasia, o mundo das idéias, e abandonamos a realidade temporal corrente. Nesse novo contexto tudo é possível: furar um pneu, ser assaltado, só passar por sinais verdes e/ou vermelhos, não sofrer um acidente de avião, ser transferido pra outra cia aérea, etc, etc, etc.

Portanto, não faz o menor sentido refletir sobre qual teria sido a melhor escolha. É irrelevante, pois nunca saberemos o que poderia ter acontecido. O futuro do pretérito simples ou composto do indicativo é descartável e de fato não existe em todos os idiomas.

Infelizmente manipulamos o tempo para moderar sucessos e insucessos e assim criamos um universo paralelo onde nos vemos todos-poderosos. Surge assim uma sensação de controle sobre vida que é tão certa quanto a frase: vou à praia amanhã.

Não controlamos nada, no máximo escolhemos. Por mais que seja frustrante acredito que quem normatizou o sistema o fez muito bem. Seria muito mais difícil se realmente estivéssemos no comando ! Do jeito que é nós podemos nos permitir atravessar nossa existência de maneira muito mais simples, pautados, talvez, na integridade.

Portanto, conformemo-nos e busquemos a felicidade, pois venha o que vier; seja o que for; o que passou, passou... Qual a próxima escolha ?


OBSERVAÇÃO:

Apesar da nossa impotência, isso não quer dizer que Deus é um jogador de dados e estamos sujeitos à aleatoriedade, mas esse é o assunto do próximo "post".


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O luto nosso de cada dia

Estou redigindo um texto sobre imutabilidade, mas além de estar muito difícil, eu me vi inspirado para escrever sobre o luto. O texto fluiu espontâneamente e resolvi publicá-lo antes do outro. É assim mesmo...

Faz parte da vida saborear o gosto acre da morte, mas não só da extinção da animação do nosso corpo físico, como também das perdas representadas pelas recorrentes frustrações que sofremos durante nossa existência. Quase tudo morre: a inocência da infância, a altivez da adolescência, a virilidade do adulto e a experiência da velhice. A criança serena que eu fui morreu e nasceu o adolescente questionador. Esse morreu para o mancebo inquieto que morreu para mim. Mais ainda, o ontem morre para o hoje, o segundo anterior para o atual, enfim, o passado sempre morre para o presente.


A continuidade da linha do tempo implica a coexistência de vida e morte num movimento cíclico e alternado. É claro que ninguém dá valor aos inúmeros milionésimos de segundo que vêm e vão, mas não podemos ignorá-los totalmente, correndo o risco de ao final da vida termos a sensação de que ela simplesmente passou sem ser vivida. Às vezes ficamos tanto tempo presos ao passado, tentando mudar o imutável, que não percebemos o indubitável valor do presente, onde nos deparamos com as verdadeiras possibilidades e escolhas. Em outras, colocamos nosso foco no futuro, conjecturando, imaginando, planejando, prevenindo; sofrendo ou gozando experiências e sensações irreais, falsas, relegando o presente a um réles meio para um fim.

Sem morte não há vida e precisamos abraçar essa dualidade, nos concentrando no agora, porque assim viveremos uma vida que se renova a todo instante. Para aceitar a morte devemos elaborar o luto, como dizem os psicólogos, para que não fiquemos presos a esses momentos onde a vida não mais existe, onde as dualidades do maniqueísmo não se verificam.

O luto se traduz em sintomas, que podem ser divididos em fases: choque, negação, depressão e aceitação. Eu já li que entre a negação e a depressão existe a raiva, mas sendo muito sincero eu nunca experimentei esse sentimento. Talvez se eu tivesse um filho as coisas fossem diferentes, mas como não tenho... Nada é mais certo e normal do que a morte. Exceto Deus e o amor (que na minha opinião são dois símbolos do mesmo elemento), tudo que tem um início fatalmente terá um fim, porém nos enganamos acreditando na sua eternidade. Nossos relacionamentos, nossos familiares, nossos amigos, nossos bens, nossos empregos, nós mesmos, todos são finitos.

Quando perdemos algo que nos é valioso, nos frustramos e essa frustração causa um choque e é essa reação ao inevitável que então nos faz negar a realidade imposta. A vida nos priva dos nossos desejos e ao negarmos o que é real, caímos em depressão e ao refutarmos essa injustiça, sofremos mais ainda.
Ficamos, então, com impressão de que somos prisioneiros de um carrasco, e na verdade somos. Entretanto, a foice desse algoz que ora nos sangra também nos liberta, cortando as amarras que nos prendem à dor do luto. As quedas nos ensinam a levantar e com o tempo aprendemos a valorizar o que nos é concedido, a força, a experiência, a resiliência, a perseverança...

Enfim, viver é estar em constante elaboração do luto, é aceitar a realidade como ela é. Esse processo serve de ponte entre a dor e o regozijo e experimentá-lo nos humaniza, nos faz aprender que somos mortais. A morte pode até ser postergada, mas nunca deixará de vir ao nosso encontro. Ela existe fundamentalmente para nos mostrar a imagem do nosso corpo desnudo, a importância das perdas, dos fracassos, das decepções, das frustrações.

Felizmente, a felicidade só depende dos ganhos e sempre ganhamos alguma coisa, por isso, eu entendo o luto como um processo fundamental para que sejamos felizes até o fim.

Agradecimento final:

Diante da morte de outrem sofremos, não por aquele que se foi, mas por nós mesmos, pela falta que ele nos fará. Esse egoísmo se manifesta graças ao vazio que foi deixado, pela parte de nós que também morreu, mas apesar disso nosso todo continua vivo e seguimos em frente.

Tudo é uma questão de escolha, seja o sofrimento ou a gratidão pelo que já passou, o medo do que se perdeu ou o amor que se sentiu graças a ele, mas independente do caminho trilhado devemos sempre agradecer. A morte não é capaz de anular o que já foi vivido e a sabedoria está em guardar as lembranças alegres, em ser grato pela oportunidade de ter convivido com o que partiu, que na vida ou na morte faz parte de nós. Todas as nossas derrotas merecem a nossa reverência.

O agradecimento pelo passado nos regozija, ilumina o caminho do presente e nos liberta da incerteza do futuro. A elaboração do luto não é a extinção do sofrimento, mas a gratidão é o remédio que pode sustar a dor e cicatrizar as feridas abertas pela morte.

Meu tio Wellington morreu nesse último sábado. Foi ele que me apresentou os conceitos de reencarnação, de agradecimento, de meditação, foi ele que me ensinou um pouco de teoria musical, de improvisação, a tocar alguns instrumentos, a desenhar... Apesar de muitos pesares, alguém muito importante !
Ele se foi... mas continua aqui, impresso em mim na parte que lhe cabe, naquele que a partir dele me transformei.

E assim, marejado, mais uma vez eu agradeço: OBRIGADO !


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

domingo, 30 de novembro de 2008

Meu superego está de licença médica

Eis uma frase falsa: TODO MUNDO SE REPRIME ! Ela é inverídica porque eu não posso prová-la logicamente, mas nunca ouvi alguém dizer que satisfaz todos os seus instintos e desejos, muito pelo contrário, meus ouvidos são a prova de que quanto mais reprimida é uma pessoa, mais extraordinárias são as suas vontades...

A mente humana é muito complexa e acredito que não seja possível controlar a natureza dos nossos pensamentos. Podemos desligá-los, por exemplo, através da meditação, mas em condições normais eles brotam do id, livres, leves e soltos, até serem filtrados pelo superego.
Quantas vezes imaginamos o que seria melhor não imaginar e pior ainda, por que desejamos o indesejável ?
Posso ser irresponsável e dizer então que todos possuímos no mínimo dupla personalidade ! Alguns tentam minimizar ao máximo a diferença entre esses “eus”, mas acho difícil que eles se tornem um só... (risos)
Em suma, excetuando-se esses rebeldes mencionados acima, o resto da multidão possui um eu social e um eu marginal (a margem de). A regra do jogo é não deixar esse último tornar-se um marginal (infrator de algum tipo de lei).

Eu penso que equilibrar moral, razão e emoção, definindo uma prioridade não é nada fácil, mas em algum nível de consciência todos fazemos isso. Durante muito tempo a moral ocupou o posto mais alto no meu “ranking”, mas hoje é a emoção que está no topo, é ela que norteia minhas buscas pessoais. Por que ? Porque a relação entre o Homem, a moral e a razão é muito mais humana do que a sua relação com a emoção e o ser humano é filosoficamente imperfeito.
Até onde vai minha percepção, moral e razão são constructos basicamente humanos e estão à mercê de todas as nossas falhas.
Prefiro, portanto, confiar nas minhas emoções, que surgem de algum lugar desconhecido e não diagnosticado quanto à sua perfeição. Não é legal haver a possibilidade de que a fonte delas seja o Paraíso, o Céu, o Nirvana, Deus ?

Andei conversando com o meu eu marginal que, aliás, é psicanalista e psiquiatra, e ele resolveu dar uma licença para o eu social, que é engenheiro e poeta. Já que a essa altura do campeonato não dá mais pra ser amoral, eu vou fazer o possível pra não ser imoral, mas nesse período, por favor, não condenem o marginal, ele é inexperiente e não sabe o que faz !

Por falar nisso, eu hoje fui muito bem acompanhado almoçar no restaurante do Jorge Aragão, o Bossa Nossa. Ele fica na Estrada Coronel Pedro Correia, 1175, na Barra da Tijuca. Todo domingo eles têm um cardápio especial e hoje foi rodízio de moqueca com chopp liberado. O preço ? Pasmem ! R$35,00 por pessoa + 10%


Abraços fraternais,

Fabio Machado.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Teoria da Diferença x Semelhança

Quase todo mundo tem alguma coisa de interessante, alguma qualidade que se sobressai, alguma virtude marcante ou traço físico inesquecível.

Às vezes é algo natural, inato, que pode ser tão simples quanto olhos azuis, mas também pode ser algo desenvolvido, tão complexo quanto inteligência emocional. Em qualquer caso, não deixa de ser parte do nosso eu e é isso que vale.

Penso que os nossos prós são além de uma necessidade pessoal, uma questão de sobrevivência social. Queiremos ou não, estamos no meio de uma competição, onde mesmo quem não quer competir e/ou não gosta do jogo é quase obrigado a participar, afinal, não podemos deixar os vírus vencerem ! (Quem não assistiu o filme Matrix peça ajuda aos Universitários)

Diante desse contexto, como podemos identificar um possível parceiro(a) ? Excluindo o amor à primeira vista, que pode ser um tema no futuro, todo mundo precisa de um critério. Até não ter critério é um critério !

Eu tenho uma teoria, que eu batizei de Diferença x Semelhança que foi moldada dentro de mim anos atrás inconscientemente e hoje busco vivê-la na prática.

Convenhamos, semelhança é o que nos dá prazer ! Quando nos sentimos compreendidos, quando nos vemos diante de uma pessoa que continuamente é capaz de sentir o que você sente, gostar do que você gosta e buscar o que você busca é fantástico ! Na minha opinião, sintonia mental, emocional, espiritual e sexual é essencial ! Só não me atrevo a dizer qual é a mais importante...

Entretanto, se houver 100% de semelhança, numa análise bem vulgar, não há individualidade ! Você morreu ! Seria como estar num carro em movimento sem motorista e sem piloto automático.
Você olha pro(a) outro(a) e, como se estivesse de frente pra um espelho, se vê. De uma forma estranha o prazer é aos poucos substituído pela indiferença e pela inércia, palavra que eu creio ser melhor do que acomodação.

Por outro lado, se houver 100% de diferença, ainda sob um ponto de vista limitado, haverá discórdia e caos. Imaginar exemplos dessa situação é muito fácil, portanto vou economizar palavras...
Entretanto a diferença gera crescimento, conhecimento, gera evolução e revolução. Diferença é fundamental ! Sem diferença caímos no abismo da invariância.

Claro que alguém vai pensar - ora, mas não existe ninguém totalmente igual ou totalmente diferente - mas algumas diferenças se mostram tão enraizadas em nosso imo que dificilmente serão alteradas por qualquer força externa. Sendo assim, podemos deixá-las de fora dessa dinâmica social sem grandes prejuízos.

Conviver é de certa forma uma sequência de negociações que paulatinamente transformam diferenças em semelhanças. Pouco a pouco, um casal converge para consensos, esses últimos uma busca muito frequentemente inconsciente por prazer, pelo prazer de ser compreendido enquanto ser humano.
Uma convivência contínua vai, então, aparando arestas, resolvendo conflitos, construindo portos seguros, alinhando corpos, mentes e espíritos.

Qual é o limite desse processo ? Acredito que se deixarmos o sistema livre, sem nenhuma força agindo sob o mesmo, o fim é a semelhança total ou quase total.
Para evitar esse "desastre" eu imaginei um ciclo, que se empregado de maneira consciente e constante cria uma relação eterna de bem aventurança.

Diferença -> Semelhança -> Prazer -> Busca -> Conhecimento -> Diferença
Meio= amor
Catalisadores= comprometimento, entrega, admiração, QI e QE.

Enfim, esse é o meu critério !


Saudações fraternais,

Fabio Machado

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Obstáculos à Felicidade I - Nós mesmos

Alguns podem pensar que eu fiquei maluco e por isso estou escrevendo esse blog, mas ao contrário disso escrevo-o para não "pirar na batatinha". Vivendo na era da informação já somos naturalmente compelidos a absorver (quero esse verbo intransitivo) e eu mais ainda, pois possuo em minha natureza um sentimento de busca incessante, sobretudo por sabedoria. Às vezes encho o saco, então eu ligo a televisão.

Pra complicar mais ainda, encontro poucas oportunidades para aliviar a pressão que todo esse conteúdo cria. Parece-me que as pessoas perderam a paciência pra conversar, desaprenderam, ou sei lá o que... Qualquer diálogo tem um viés negociatório, onde cada um luta para que sua verdade saia vencedora, ou seja, vivemos sucessivas negociações distributivas e não é à toa que muitos somos péssimos negociadores ! Esquecemos que é a partir da diferença que crescemos e o que eu mais quero é que as pessoas sejam diferentes, mas sendo ao mesmo tempo consistentes e pacientes... Bem, esse é assunto pra outro "post".

Existem vários obstáculos à felicidade sendo o principal deles o próprio Homem. Quando digo obstáculo, quero dizer uma dificuldade e não uma barreira intransponível, portanto entendo que esses contratempos podem e devem ser superados.
Mantendo uma coerência necessária com meu texto inaugural, penso realmente que ser feliz é uma questão de escolha, mas talvez não seja possível para todos. Não escolhemos ser felizes por muitas razões e vou escrever sobre algumas delas.

Frequentemente confundimos ou interpretamos felicidade como alegria... O principal problema dessa associação é que tristeza passa a ser o oposto de felicidade e como todos nós ficamos tristes por vezes, a vida se torna uma roda gigante, instável e de sentido imprevisível. Surge, então, um natural impulso de refutarmos essa tristeza para que fiquemos somente com a felicidade, mas ao perceber que esse controle é impossível, ficaremos tristes novamente. Logo, penso que a tristeza apenas faz parte da vida e mais ainda, faz parte da felicidade. Dentro do meu entendimento, procuro e sempre encontro um lado bom e consequentemente feliz em qualquer evento, mesmo nos tristes. Acima de tudo, isso me lembra que eu sou feliz mesmo que eu esteja triste e isso, sim, me traz alegria.

Mesmo os que consideram a felicidade como um estado de espírito às vezes não se comprometem com a sua busca. Ser feliz não é algo que se alcança, mas algo que se persegue. Parou, perdeu, "playboy" !

Outra grande dificuldade é quando enxergamos a felicidade num elemento mundano qualquer, como por exemplo drogas, comida, esporte, profissão, religião... Nem preciso dizer que isso pra mim não faz o menor sentido, porque por mais tentador e prazeroso que esse objeto possa ser, se ele desaparece ou não se sustenta, a felicidade simplesmente se esvai. Entre esses elementos supracitados, o mais comum é que ele seja outra pessoa. Transformamo-la automaticamente num herói, que salvará nossa vida e nos trará a felicidade eterna. Ledo engano !
Sinto lhes dizer que o máximo que encontraremos são "Batmans" e "Batwomans", que podem até ter dinheiro, mas certamente não têm o maravilhoso "cinto de utilidades". Parece, então, que alguns psicanalistas estavam certos quando disseram que todos nós temos traumas, heróis ou não.
Além da paródia que será a imagem burlesca do herói sombrio e falível, temos que nos afastar da ilusão dos contos de fadas, se estes são compreendidos literalmente como descritos nos livros.
Creio que os escritores queriam que nós percebêssemos ao ler estórias como a da Branca de Neve que elas são tão possíveis quanto reais, mas que essa realidade fundamental só se manifesta quando entendemos que "Branca de Neve" certamente ficava de saco cheio daquele anão rabugento e surtou furiosa quando a carruagem virou abóbora. O príncipe se sentiu atraído pela segunda moçoila em quem testou o sapato de cristal, foi seduzido pela quinta e entrou em depressão depois da décima primeira tentativa fracassada. Esses episódios foram relegados à criatividade dos leitores, porque o importante é que os dois acreditaram no amor e seguiram em frente, em meio a erros e acertos, caindo e levantando, mas sempre fiéis à sua fé, à fé no amor. Por isso, e só por isso, eles viveram felizes para sempre !

Finalmente, o que mais me atrapalha na busca da minha felicidade são os infelizes, aqueles que sequer têm consciência do próprio direito de escolha, do próprio livre-arbítrio. Esses entes obviamente dão sentido à felicidade, porque ela só existe porque eles não a são. Entretanto, até hoje fui incapaz de pensar num sistema filosófico que me convença de maneira satisfatória do porquê dessa aparente parcialidade da vida.
Se não fosse a minha fé eu diria, e já disse, que ser feliz é impossível. Aliás, fé foi o que faltou a Nietzsche, porque Deus não pode estar morto... daqui nascerá um futuro "post".

Para não ficar dúvida... fé e crença na minha opinião são obviamente conceitos diferentes, aliás, fé é o elemento mais importante da vida, porque é o que nos conecta com alguma "coisa" além dela, sem que precisemos entendê-la (essa "coisa") ou até mesmo percebê-la. Posso chamá-la de conjunção divina.
Ela também tem uma outra característica interessante que é a não dualidade. Estamos todos cercados de duplas, como bem e mal, certo e errado, crença e descrença... mas a fé não possui oposto óbvio e desde que pensei nisso eu me pergunto: por que ? Se não fossem as horas inúteis que eu passo pensando no futuro eu já teria descoberto !


Saudações fraternais.

Fabio Machado.