Há muito tempo eu quero escrever sobre o Amor, talvez porque eu tenha uma percepção peculiar Dele, talvez porque sem Ele eu não faça sentido. A verdade, pelo menos a minha, é que o Amor independe de todo o resto, é atemporal, infinito, incomensurável. Ele simplesmente é !
Por isso nos meus "posts" anteriores eu mencionei em breves passagens que o Amor se confunde com Deus e que ambos são eternos. Sendo assim, como é possível justificar essa "energia" quando milhões de amantes se separam e deixam de se amar ? Como podemos dizer "eu te amo" um dia e "o que sinto é um amor fraternal" no outro ? Ou ainda, por que o amor maternal é diferente do amor conjugal ? Não seria ele o pilar fundamental de todos os relacionamentos interpessoais ?
Tentei imaginar quando o ser humano sentiu sua conexão com o Amor pela primeira vez e cogitei ter sido no momento em que passamos a nos ressentir pela morte de outrem. Até então não havia sociedade organizada, cultura, família, tempo, Deus... somente uns nômades que vagavam pelas pradarias tentando sobreviver, um dia após o outro. Entretanto, desde que passamos a dar valor a existência de um outro ser, a ponto de lamentar a sua ausência, sentimos pela primeira vez o que é amar. Posso estar errado ? Claro ! Eu sou cheio de TEORIAS...
Eu também acreditava que só havia um tipo de Amor, independente do contexto. Não me fazia o menor sentido a existência de nuances e algo assim parecia ter sido inventado pelo Homem com o objetivo de justificar algo.
Mas eu ainda precisava encontrar um entendimento do Amor que respeitasse minhas crenças. Uma das doutrinas que tem o meu profundo respeito é a Cabala Judaica, que eu tive conhecimento através do meu recém falecido tio e que estudei um pouco mais num período breve em que convivi com a comunidade judaica. Ela diz que almas gêmeas existem e até então eu acreditava que essa nossa contraparte divina representava um Amor eterno e
indissolúvel.
E assim eu vivia: sorrindo, chorando, me apaixonando, desejando, gozando, sofrendo, doendo... amando sem saber o que era amar. Hoje, eu amo (ponto final).
Amar pra mim é essencialmente um verbo intransitivo, nós simplesmente amamos, não amamos o que ou quem. Na minha fé é impossível ser feliz sem amar, mas não somos capazes de nos conectar a esse Amor diretamente, ele é muito sublime e etéreo para a nossa brutalidade. Precisamos de canais para alcançá-lo, que são simbolizados através de algum objeto, concreto ou abstrato. O grande canal do sacerdote é a prece; o do monge budista é a meditação; o da mãe são os filhos; o do heremita é a liberdade; o do misantropo é, por exemplo, a natureza; o da maioria das pessoas são os amigos e por aí vai. Para aquele que refuta todos esses, ainda há o amor-próprio, nosso canal primordial. Sem ele a vida perde o seu sentido e pra mim é o ponto de partida para o suicídio... Logo, cada um de nós deve buscar os seus canais, pois é
através deles que amamos !
Essa idéia me permitiu entender que os vários tipos de Amor foram inventados por nós mesmos para nos proteger. Não suportaríamos viver acreditando que um grande amor se acabou e preferimos justificar seu término pensando que na verdade aquele era apenas um amor fraternal, que o verdadeiro amor está por aí nos esperando. Seria difícil sofrer a morte de um pai e apenas chorar a morte de um amigo sem a existência do amor paternal como explicação.
Até hoje só conheci uma pessoa que deduziu dessa mesma forma, uma moçoila que acabo de conhecer chamada Luciana Guerreiro. Foi interessante ver alguém realizar em poucos instantes o que me levou uma eternidade...
Também voltei a acreditar em almas-gêmeas. Fazendo referência ao meu post anterior, nossa cara-metade teria então vibração
idêntica à nossa e a empatia criada entre os dois seria máxima. Resumindo, seria o canal perfeito, a conexão mais poderosa com o Amor, com Deus.
Só resta saber se a perfeição desse canal supera a imperfeição do Homem...
Enfim, se considerarmos que amamos da mesma maneira através de nossos canais tudo se esclarece. Às vezes um deles se fecha, mas há muitos nos esperando. Alguns são mais intensos que outros, mas todos são importantes.
PAUSA PARA REFLEXÃO.Dito isso, vou usar a construção frasal tradicional com o verbo transitivo a partir de agora. Talvez escrever "eu amo através do meu sobrinho" seja incômodo pra alguns leitores ! (risos)
Podemos (e devemos) amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Poderíamos até ter e amar mais de um cônjuge, e não o fazemos por uma questão cultural, por conta das convenções sociais, tanto que há países com cultura poligâmica.
Entretanto, amar pode se tornar complicado, porque o Amor é algo que está impregnado no espírito, mas certas demonstrações são selvagens, como o sexo, que está impregnado no corpo. Esse teor mais denso, explica porque uma pessoa que ama outra tem desejo por uma terceira. Nossos impulsos e opiniões são fortemente incluenciados por fatores externos socio-culturais e assim, não é raro, acabamos confundindo, consciente ou inconscientemente, Amor, sexo e cobiça.
Talvez por isso a natureza tenha criado a paixão que, acima de tudo, é super simples ! Se o ser humano não se apaixonasse já estaríamos extintos !
Enfim, nosso aspecto mundano nos conduz por caminhos sinuosos, em que nos preocupamos com o passado, com o futuro, com a razão, com a moral, com a cultura e com a sociedade e diante deles nos afastamos da nossa verdadeira busca. Tento me manter no caminho. Por vezes escorrego, mas levanto e sigo.
Tenho certeza que o Amor esteve, está e estará, mas ele é realmente importante hoje; agora. E eu amo muito !
Saudações fraternais,
Fabio Machado.