quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A Instituição Machado

Já estou há bastante tempo sem escrever, mas as reflexões densas estão sempre no meu dia a dia... Nesse último ano muita coisa mudou na minha vida e os recentes percalços me permitiram observar alguns detalhes pessoais que antes passaram despercebidos. Não que eu seja alienado ou desapercebido, pelo contrário, eu tento me manter conectado ao meu eu, mas me perco de mim conscientemente, num ato de liberdade, de desapego, de resignação.

Depois de ver a única empresa onde trabalhei (desde estagiário, passando por técnico, consultor até gerente) encerrar suas atividades, eu me vi - mais uma vez - perdido e disse pra mim mesmo: Ótimo, uma encruzilhada... agora é só ler as placas, escolher um caminho e seguir em frente, sempre esperando dias melhores. 
Mas pra minha surpresa, eu não "entendi" as placas ao meu redor e não me alegrei com o iminente processo de mutação e recriação do meu eu (social). Dessa vez o presente mais parecia um labirinto e o futuro um túnel sem fim, me deixando totalmente desconfortável até mesmo com o próximo passo. Na verdade eu queria mesmo era proteger o meu status quo e lutar até a morte pela sua sobrevivência. Foi então que muita coisa passou a fazer sentido...

Mais do que a Instituição Social de Durkheim, eu soube que existia uma outra fortaleza sinistra me cercando, capaz de desestruturar radicalmente meu processo decisório e de irradiar sobre mim uma inércia arrebatadora. Eu que procuro escolher sem me preocupar com o mundo, encontrei um mundo de preocupações em mim mesmo e apesar de considerar meus processos internos de mudança bastante maduros e relativamente livres, eu percebi que sou um grande prisioneiro; um detento encarcerado na implacável Instituição Machado, a "famosa" organização existencial do eu.

Essa instituição é um verdadeiro paradoxo. A cada dia, a cada tijolo pilhado nós vamos construindo ao nosso redor muralhas, que nos mantém protegidos das ameaças do mundo externo, mas ao mesmo tempo adormecem nosso estado de alerta nos confinando atrás das barras da falibilidade do eu.
É um processo gradativo, validado pela fluidez e causalidade do tempo. Assim, a cada instante nós (porque acredito que todos nós passemos por algo semelhante) vamos consolidando uma realidade, que por mais certa e lógica que possa parecer nem sempre é o que parece.

Quando a vida por algum motivo me permitiu enxergar além da névoa que me obscurecia, eu me me vi totalmente fora do eixo, me afastando da minha essência como nunca fiz antes. Minha realidade profissional perdeu completamente o sentido e com ela se foram horas, dias, anos que dediquei a um propósito que agora se revelou infundado.
Mesmo assim,  a continuidade da vida não dá descanço e tenho que seguir em frente como qualquer um que busca qualquer coisa nessa existência. E foi assim que eu cheguei até a atual encruzilhada...

Parece fácil escolher, mas é irritante reconhecer que existe uma entidade nos tolhendo e essa entidade é você mesmo ! É desconcertante ficar estagnado diante de uma escolha aparentemente simples, não por receio do que o mundo vai pensar de você, mas por certeza de que você não sabe o que pensar de si ! E o requinte de crueldade é que a realidade continua a mesma, a estrada está ali, as placas também, você idem.

Foi difícil encontrar uma saída (e ainda nem sei se encontrei). Nada é mais difícil do que abandonar o eu, porque ele (o eu) é o nosso conforto, nosso solo firme, nossa única certeza absoluta. Destruir a Instituição Machado significa levar à falência o certo e fugir dessa fortaleza é como saltar no vazio sem saber quantos instantes de oxigênio ainda me restam.

Mas por mais que o tempo exerça enorme pressão e a Instituição Social ainda esteja na próxima curva nada é mais importante do que a minha essência, a minha verdade incontestável, onde me encontro integralmente e por onde me conecto com Deus.
Minha decisão ?!?!? Por enquanto eu decidi ficar perdido. A incerteza sobre o eu me confere uma grande certeza: Eu sou (ponto) !

O resto é com a vida... Que venha o fururo ! Se não der certo eu "fujo" pra Visconde de Mauá... (risos)


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

2 comentários:

Dani disse...

"Eu sou". "O quê?"... na verdade nunca deveria ter o objeto direto. Eu sou (e pronto!) "Ser" deveria ser verbo transitivo indireto! rs Destruir a sua própria instituição significa se despir de muita coisa para poder ser um pouquinho mais livre. Delicado. Perigoso. Já dizia Clarice que ao mudarmos, até cortar os defeitos da nossa vida pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Porém a tentativa é válida e necessária. Atingir a própria essência desconhecida por nós mesmos é aventura para poucos.

Juliana Kühne disse...

Mto bom! E já consigo sentir sua essência voltando (ou ressurgindo)... aquela! Se perder é sempre mto bom... quebrar as muralhas melhor ainda! Não tem como não dar certo, mas Visconde de Mauá pode ser mais um dos caminhos! Rs