sábado, 18 de julho de 2009

Eu, tu, ele e nós

Ela o viu indo embora. Quanto mais ele se afastava, mais a realidade a invadia, cruel, impiedosa. A cada passo, uma pressão no peito; a cada pontada, um pedido de ar. Tamanha relatividade tomou-a que ela não mais sabia quem se movia, mas era certo que a distância entre eles aumentava, sentia-a em seu estômago.
Ele se perguntava o que fora causa e o que fora consequência. Sofria. Agoniava. Chorava... muito. A dor era tão forte que causava vertigens. Buscava apoio nas paredes próximas. Lutou o quanto pode. Já exaurido, sabia que uma hora teria de desistir, só não sabia quando. Sem forças, sem recursos, vencido pelas escolhas alheias, sucumbiu. Sua voz interior dizia: vá, siga, continue.
Ao desaparecer no horizonte, sua presença se fortaleceu. A inércia que a dominava vacilou e seu corpo se projetou adiante. Reequilibrou-se com seu pé direito, depois com o esquerdo. Quando sentiu o vento no rosto, já estava correndo. Solta em um labirinto de possibilidades, olhava ao redor, atenta, como um radar atrás de tesouros perdidos.
Andava em círculos, enquanto sua barba crescia. Não havia caminho certo, pois não havia destino. Tentava convencer-se com argumentos frágeis de que não havia alternativas. As imagens de antes ainda estavam vivas em sua mente. Sobrevivia. Vivia sobre. Faltava-lhe a inexistência de motivos pra ser feliz e procurá-los era um contrasenso. Parou. Respirou fundo, uma, duas, três vezes. Já estava longe e não sabia se conseguiria voltar. Dúvida. Medo. Não queria sofrer, mas o passado de repente pareceu mais seguro do que o futuro. Os olhos que agora o cercavam eram vazios, sem ao menos a indiferença dela e num movimento brusco girou seu corpo numa meia volta. A paz o brindou com um céu alaranjado e sentindo o frio tomar sua pele pôs-se em busca dos seus desejos.
Em meio a tantos desencontros, bastava-lhes um encontro, um reencontro. Parecia-lhes óbvio que suas chances eram maiores, pois já estiveram separados por meros receios.
Mas a vida tinha seus próprios planos, a todo instante mostrava-lhes sua soberania. De nada adiantava seus arrependimentos, eram como estranhos novamente, e então, só lhes restava aguardar que o universo conspirasse em seu favor e lhes desse outra primeira chance.


Saudações fraternais,

Fabio Machado.

P.S. A causalidade só existe para o Homem, que dança conforme o ritmo do Tempo. Para Chronos, cada movimento do relógio é único, independente, desvinculado dos demais. Passado, presente e futuro dão a luz ao sempre, onde temos que construir nossa felicidade constantemente.

3 comentários:

Ju Kühne disse...

Uauuuu! Mto forte esse texto! Gostei...

Interessante a sutileza do ora ser "ele", e ora ser "ela"! ;)

Mil beijos!

Fabio Machado disse...

Ficou meio 'doistoiesviskiano', fatídico, mas é que eu estava muito gripado esse final de semana... rs

Ju Kühne disse...

Ahhhhhhhh! Ficou ótimo... para! Rs...