quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Obstáculos à Felicidade I - Nós mesmos

Alguns podem pensar que eu fiquei maluco e por isso estou escrevendo esse blog, mas ao contrário disso escrevo-o para não "pirar na batatinha". Vivendo na era da informação já somos naturalmente compelidos a absorver (quero esse verbo intransitivo) e eu mais ainda, pois possuo em minha natureza um sentimento de busca incessante, sobretudo por sabedoria. Às vezes encho o saco, então eu ligo a televisão.

Pra complicar mais ainda, encontro poucas oportunidades para aliviar a pressão que todo esse conteúdo cria. Parece-me que as pessoas perderam a paciência pra conversar, desaprenderam, ou sei lá o que... Qualquer diálogo tem um viés negociatório, onde cada um luta para que sua verdade saia vencedora, ou seja, vivemos sucessivas negociações distributivas e não é à toa que muitos somos péssimos negociadores ! Esquecemos que é a partir da diferença que crescemos e o que eu mais quero é que as pessoas sejam diferentes, mas sendo ao mesmo tempo consistentes e pacientes... Bem, esse é assunto pra outro "post".

Existem vários obstáculos à felicidade sendo o principal deles o próprio Homem. Quando digo obstáculo, quero dizer uma dificuldade e não uma barreira intransponível, portanto entendo que esses contratempos podem e devem ser superados.
Mantendo uma coerência necessária com meu texto inaugural, penso realmente que ser feliz é uma questão de escolha, mas talvez não seja possível para todos. Não escolhemos ser felizes por muitas razões e vou escrever sobre algumas delas.

Frequentemente confundimos ou interpretamos felicidade como alegria... O principal problema dessa associação é que tristeza passa a ser o oposto de felicidade e como todos nós ficamos tristes por vezes, a vida se torna uma roda gigante, instável e de sentido imprevisível. Surge, então, um natural impulso de refutarmos essa tristeza para que fiquemos somente com a felicidade, mas ao perceber que esse controle é impossível, ficaremos tristes novamente. Logo, penso que a tristeza apenas faz parte da vida e mais ainda, faz parte da felicidade. Dentro do meu entendimento, procuro e sempre encontro um lado bom e consequentemente feliz em qualquer evento, mesmo nos tristes. Acima de tudo, isso me lembra que eu sou feliz mesmo que eu esteja triste e isso, sim, me traz alegria.

Mesmo os que consideram a felicidade como um estado de espírito às vezes não se comprometem com a sua busca. Ser feliz não é algo que se alcança, mas algo que se persegue. Parou, perdeu, "playboy" !

Outra grande dificuldade é quando enxergamos a felicidade num elemento mundano qualquer, como por exemplo drogas, comida, esporte, profissão, religião... Nem preciso dizer que isso pra mim não faz o menor sentido, porque por mais tentador e prazeroso que esse objeto possa ser, se ele desaparece ou não se sustenta, a felicidade simplesmente se esvai. Entre esses elementos supracitados, o mais comum é que ele seja outra pessoa. Transformamo-la automaticamente num herói, que salvará nossa vida e nos trará a felicidade eterna. Ledo engano !
Sinto lhes dizer que o máximo que encontraremos são "Batmans" e "Batwomans", que podem até ter dinheiro, mas certamente não têm o maravilhoso "cinto de utilidades". Parece, então, que alguns psicanalistas estavam certos quando disseram que todos nós temos traumas, heróis ou não.
Além da paródia que será a imagem burlesca do herói sombrio e falível, temos que nos afastar da ilusão dos contos de fadas, se estes são compreendidos literalmente como descritos nos livros.
Creio que os escritores queriam que nós percebêssemos ao ler estórias como a da Branca de Neve que elas são tão possíveis quanto reais, mas que essa realidade fundamental só se manifesta quando entendemos que "Branca de Neve" certamente ficava de saco cheio daquele anão rabugento e surtou furiosa quando a carruagem virou abóbora. O príncipe se sentiu atraído pela segunda moçoila em quem testou o sapato de cristal, foi seduzido pela quinta e entrou em depressão depois da décima primeira tentativa fracassada. Esses episódios foram relegados à criatividade dos leitores, porque o importante é que os dois acreditaram no amor e seguiram em frente, em meio a erros e acertos, caindo e levantando, mas sempre fiéis à sua fé, à fé no amor. Por isso, e só por isso, eles viveram felizes para sempre !

Finalmente, o que mais me atrapalha na busca da minha felicidade são os infelizes, aqueles que sequer têm consciência do próprio direito de escolha, do próprio livre-arbítrio. Esses entes obviamente dão sentido à felicidade, porque ela só existe porque eles não a são. Entretanto, até hoje fui incapaz de pensar num sistema filosófico que me convença de maneira satisfatória do porquê dessa aparente parcialidade da vida.
Se não fosse a minha fé eu diria, e já disse, que ser feliz é impossível. Aliás, fé foi o que faltou a Nietzsche, porque Deus não pode estar morto... daqui nascerá um futuro "post".

Para não ficar dúvida... fé e crença na minha opinião são obviamente conceitos diferentes, aliás, fé é o elemento mais importante da vida, porque é o que nos conecta com alguma "coisa" além dela, sem que precisemos entendê-la (essa "coisa") ou até mesmo percebê-la. Posso chamá-la de conjunção divina.
Ela também tem uma outra característica interessante que é a não dualidade. Estamos todos cercados de duplas, como bem e mal, certo e errado, crença e descrença... mas a fé não possui oposto óbvio e desde que pensei nisso eu me pergunto: por que ? Se não fossem as horas inúteis que eu passo pensando no futuro eu já teria descoberto !


Saudações fraternais.

Fabio Machado.

2 comentários:

Renata Bitencourt disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Renata Bitencourt disse...

ihhh excluí sem querer....segue aí de novo...

É, acho que nossas reflexões são muito parecidas e é muito bacana ver isso escrito por um amigo e não por mim, para variar.
Infelizmente as conversas com a grande maioria das pessoas são mais vazias de significado e muitas vezes de emoções. É a categoria fast food de relacionamentos sociais. Acho que o desafio é saber circular em todas estas esferas sem deixar de sermos quem somos em essência. Existe o tempo para tudo, inclusive para a TV, que aliás gostei muito da frase.

belo texto, parabéns.