segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Não leve a vida tão a sério (cont.)

Mesmo nesse período agitado de festas e comemorações, eu tive alguns poucos feedbacks sobre o meu último post. Pelo visto, algumas ideias precisam ser mais elaboradas e vou aproveitar essas primeiras horas de 2011 pra fazer isso.

Na minha visão, tudo o que percebemos como realidade está interconectado, é como se todos os seres vivos e os inanimados fizessem parte de uma rede ou parafraseando Fritjof Capra, de uma Teia da Vida. Qualquer ação proveniente de um integrante dessa rede afeta ele mesmo e os que estão à sua volta: um leão que mata uma zebra bebendo água, uma flor que libera seu pólen no ar, um motorista que xinga sem motivo alguém no trânsito, uma topada que damos no dedo mínimo do pé, uma represa construída, tudo isso tem consequências que desconhecemos até que elas aconteçam e mesmo quando acontecerem, talvez não consigamos relacioná-las com uma causa específica. Assim, é possível que o mal humor do motorista por machuchar o dedo do pé tenha provocado o xingamento gratuito ao dirigir pro trabalho, é possível que a zebra morta tenha deixado de comer a flor que polinizou o ambiente, é possível que a água evaporada da represa tenha provocado uma tempestade que formou um lago onde a zebra bebeu água e foi morta pelo leão, e essa cena, ao passar no Discovery Channel®, distraiu o motorista fazendo com que ele desse uma topada com o pé. Enfim, tudo é possível e causal, mas ao mesmo tempo imprevisível e incontrolável.

Sendo um sistema vivo, a Vida se manifesta livremente através dessas sucessivas causas e consequências. As leis que o regem são as que inventamos como o Direito, as que observamos como as Leis da Física e as leis que herdamos, como as da Natureza em geral. Há ainda forças veladas e oficiosas, que eu chamo de Lei da Maioria e Lei da Fama, assuntos pra outro texto.
Entre os objetivos, há por exemplo a busca pela perpetuação, pela otimização energética e pela evolução sistêmica, esse último um conceito pessoal.

Entretanto, a grande questão dessa filosofia está nas ações, porque na minha opinião não importa o que cada um faça, nem as leis nem os objetivos mudam. É claro que cada ação conduz o sistema a um estado específico, mas não há mudança sistêmica. Assim, pra Vida não faz diferença se eu sou rancoroso, se eu mato mosquitos, se eu sou ciumento, se faço trabalho voluntário, se eu sou vaidoso, se eu tenho depressão ou muitos amigos, se eu vivo cem anos ou se morro de estresse aos quarenta. Agir de um jeito ou outro é relevante apenas num aspecto individual ou no máximo microsistêmico.

Por esse motivo, eu acredito que a melhor estratégia para contribuir positivamente para os objetivos do todo é fazer o melhor pra si mesmo e consequentemente para o sistema. Parece um propósito egoísta, mas a inexistência de uma Verdade absoluta e o poder do livre-arbítrio individual impedem que seja concebido um plano coletivo eficiente para conquistar o sucesso sistêmico. Talvez se soubéssemos de onde viemos, existisse paz e harmonia na Terra, talvez se Deus vivesse fisicamente entre nós, os Homens “seguissem” uma única religião ou nenhuma, talvez se houvesse um consenso sobre o que acontece após a morte, os seres humanos cultivassem uma mesma Ética.
Enfim, felizmente ou infelizmente nosso universo ainda é muito relativo, extinto de qualquer unanimidade e uma opção é concentrar nossos esforços em nós mesmos. É possível conhecer o que é melhor pra si próprio a partir da convivência social, dos erros e acertos, alegrias e tristezas, conquistas e frustrações, usando o sistema a nosso favor e tornando-se um ser mais “evoluído“. Com essa postura acredito que temos mais chance de influenciar positivamente nossos próximos e fazer do mundo um lugar melhor. Portanto, digo e repito, não leve a vida tão a sério !


Saudações fraternais,
Fabio Machado.